A estrutura narrativa criada por Scorsese inspirou e inspira diretores como, Tarantino e continuará inspirando outros diretores por décadas, quem sabe? Embora não se trate de um roteiro original, escrito por Steve Zaillian baseado no livro I heard you paint houses (eu soube que você pinta casas) de Charles Brandt (mesmo autor de Donnie Brasco, que também virou filme) que também colaborou no roteiro, isso não ofusca de maneira alguma o mérito de Scorsese assim como a tecnologia para rejuvenescer DeNiro pode ser creditada como fator de genialidade na trajetória de Frank (Robert DeNiro), o irlandês que dá titulo ao filme. Esse terreno que envolve, poder, hombridade, laços de sangue, amizade, lealdade e traição é algo que Scorsese domina como ninguém, Os Bons Companheiros já havia conferido isso.
Há certas inevitabilidade nos filmes de gângsters que em alguns casos, torna esses filmes enfadonhos, exemplo: então, quem vamos matar agora? Quem traiu? e por mais contraditório que possa parecer, tudo isso está em O Irlandês, mas escamoteado de tal maneira, que não nos damos conta, algumas abordagens do roteiro para isso é claro, como a cena da execução na barbearia, sabemos que ali acontecerá uma execução, mas isso não é mostrado, a câmera passeia, vemos a possível vítima, o local, os possíveis assassinos e por fim a câmera para em um grande arranjo de flores e a cena é conferida por meio de fotos em um jornal. A maestria na história tem haver com a capilaridade que a trama possui, colocando sindicatos, políticos e gângsters lado a lado com fatos históricos como pano de fundo, além é claro de se tratar de personagens reais.
Nesta foto temos, Jimmy Hoffa e Frank "Irlandês" que tinha 1,93m...
A expectativa criada no anuncio de que a história do Irlandês ganharia as telas, e pela reunião da trinca de atores, DeNiro, Pesci e Al Pacino, sob a direção de Scorsese parecia algo improvável, já que a história tem um recorte de cinco décadas, e os atores todos estão na casa dos 70, mas a tecnologia esta ai para cumprir seu honroso papel, e a técnica de rejuvenescer é a mesma utilizada em Tom Stark (Robert Downey Jr.) e Benjamin Burton (Brad Pitt). Aliás isso pode ser conferido no doc. conversando com o irlandês.
Ao conhecer Russell Bufalino (Joe Pesci), mafioso que controlava New Jersey, logo após II GM, Frank Sheeran (Robert DeNiro) se transforma no matador profissional da máfia italiana, a trama é toda vista pela percepção de Frank. Por recomendação de Russell, que a essa altura era uma espécie de mentor e protetor de Frank, o aconselha a se aproximar de Jimmy Hoffa (Al Pacino) e os dois desenvolvem uma grande amizade, e ai que entra a mestria do roteiro que trabalha a expectativa de como se comportará os laços de amizades e lealdade.
O filme foi tratado com tanta expectativa pois o caso Hoffa, que até hoje não encontram o corpo, e portanto um dos casos mais instigante e intrigante dos registros policias americanos.
Casa em Detroit onde Hoffa foi supostamente assassinado em 1975
A força do filme sem dúvida é atuação, DeNiro muito embora rejuvenescido e com olhos azuis, ainda sim se move e fala como um septuagenário, isso não dá pra esconder, e a idéia que passa é que ele inicia sua trajetória de crimes com 50 anos, porém é compensada pela impecável atuação, num contraponto bem trabalhado entre seu personagem, Frank Sheeran, e Jimmy Hoffa (Al Pacino), este, expansivo e explosivo que acaba colocando os laços de lealdade em conflito, Russell (Joe Pesci) é o meio termo, paciente e calmo com olhar expressivo, mesmo com óculos. São atuações primorosas que exploram o poder sobre outros indivíduos e ao mesmo a fragilidade do meio que os cerca e os protegem que podem desmoronar em uma simples traição, e a partir dessa premissa Scorsese cria o universo que lhe é bem familiar e domina como poucos.
Outro ponto que salta aos olhos, embora a função é não ser percebida, a montagem é bem cuidadosa com cortes precisos, pacientes aliado a uma fotografia com movimentos de câmera quase moroso, não há uma só cena com puxadas rápidas de câmeras, como um chicote, muito em voga nos filmes de ação atualmente.
Ao contrário de era uma vez em Hollywood, as mais de 3h do Irlandês me foi demasiadamente sentida, fiquei em dúvida se havia a necessidade de tal duração, mas creio que isto em parte é atribuída ao desfecho na qual há toda uma preocupação em explorar o catolicismo do Irlandês, particularmente não me agradou, mas vale pela atuação de DeNiro.
Sem dúvida um filme memorável, pela direção, atuação e estrutura narrativa.
Sem dúvida um filme memorável, pela direção, atuação e estrutura narrativa.
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