quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Cold War (Zimna Wonja)

Por Pachá

A maneira com que Pawlikowsk retrata o amor, é no mínimo cativante, cercado de mistério, imperfeições, renuncias e certa dose de loucura. Se em The Woman in the Fifth 2011 (Estranha Obsessão) o amor enlouquece, em Zimna Wonja (Cold War) o amor é o antídoto para loucura, quando nada mais parece fazer sentido.

Wiktor (Tomasz Kot) é um talentoso maestro e juntamente com Irena, coreografa, (Agata Kuleszka), pesquisam a música e dança folclórica camponesa polonesa logo após a II GM. O projeto de identidade cultural é apropriado pelo partido dos trabalhadores.

Durante o processo de audição, Wiktor conhece Zula (Joanna Kulig), uma talentosa, bela e selvagem camponesa, que não passa incólume aos olhos e ouvidos de Wiktor. A partir desse ponto, o processo que estabelece os alicerces para uma história de amor, se dá como uma construção em terreno acidentado e de difícil acesso, se encararmos essa história de maneira cartesiana, mas aqui, há a consumação devotamente desejada de se perder na irracionalidade de sentimentos dos quais o coração é o herdeiro. A luta de ambos para ficar juntos, mas pela percepção de Wiktor, é uma necessidade que se esvazia quando isso acontece, mas ainda sim algo latente que se move nas entranhas dos amantes, e fugindo dos clichês, muitas vezes irritantes, dos filmes do gênero, Pawlikowski entrega uma história cativante, ainda que o tratamento com o passar do tempo, em elipses recorrentes, possa causar estranhamento, no sentido de que algo ficou mal encaixado na história.

As atuações, principalmente de Joanna Kulig, que além de atriz também tem formação em música, é de encher os olhos e ouvidos, sua natureza ativa e altiva, selvagem cria interessante contraponto com a quase indiferença de Wiktor que aos pouco vai enlouquecendo, um pouco, a cada despedida com Zula, e mais tarde percebemos que essa loucura e compartilhada por Zula, o desfecho deixa isso claro.

A fotografia de Lukasz Zal, em preto e branco, repete o contraste, porém com mais sombras que Ida de 2013, mas é igualmente impactante, de uma beleza que já vale o filme, sinceramente sou fã Lukasz Zal.

Um filme triste, como são as histórias de amor, mas de uma beleza que só o amor pode proporcionar enquanto acontece.









Nenhum comentário:

Postar um comentário