quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

The Lighthouse 2019 (O Farol)


Por Pachá

O Farol e Midsommar, além de ter, estreantes e talentosos diretores, disputavam, entre fãs de filme de terror psicológico, grande aposta como melhores filmes de 2019, ao menos era essa a minha percepção. Ari Aster diretor de Midsommar não conseguiu imprimir o mesmo ritmo narrativo conseguido em Hereditário. Robert Eggers diretor de A Bruxa foi muita mais feliz em O Farol.

Situado no final do séc. XIX, a história de O farol retrata a rotina de dois faroleiros e como se dá a manutenção da sanidade naqueles que vivem isolados.  A premissa é mais do que explorada, isolamento e sobrevivência, principalmente nos filmes de viagens espaciais, mas esse é um terreno que Eggers domina com maestria ao escolher os ambientes para trabalhar essa narrativa.

Com inspiração no expressionismo alemão, mais precisamente nas obras de Fritzlang o filme de Eggers evoca o que há de melhor no gênero, além de colocar alguns escritores como referência, inicialmente Allan Poe pela paisagem lúgubre, misteriosa tal qual fez em A Bruxa... e também pela explicita referência ao corvo, a gaivota remete a isso. Quando a insanidade toma conta dos protagonistas, é fácil assimilar (quem leu Mob Dick) a Herman Melville nas cômicas, mas aterrorizantes, falas do faroleiro veterano Thomas Wake (Willem Dafoe) nas ameaças constantes que faz ao novato Ephraim Winslow (Rpbert Pattinson).

A fotografia desempenha papel fundamental, e cumpre sua missão. O preto e branco alcançado e o formato (aspect ratio), 1;19 (4 por 3), por si só cria uma atmosfera de natureza indomável e ameaçadora, uma clara referência ao livro Mob Dick, que para alguns como eu, tem nesse classico da literatura uma obra de terror. Os planos de Jarin Blaschcke que também fotografou A Bruxa, são cuidadosos em extrair o gradativo processo de insanidade dos personagens.

O desenho do som, também ocupa papel crucial na rotina diária dos personagens, o grande apito grave, como uma gigante trombeta apocalíptica ajuda aprofunda a condição de humilhado e martírio de Winslow

As atuações são impecáveis, Dafoe e Pattinson entregam personagens que se movem entre o delírio, loucura, sonho com diálogos, literais e teatral, é verdade, mas premeditado, como parte do processo de insanidade ao qual os dois estão expostos, ao passo que deixa também o espectador em dúvida, sobre o que é ou não verdade, a cena em que Winslow encontra o que seria o corpo do assistente anterior, e depois relata isso para Thomas, é a síntese dessa confusão que alcança não só os personagens.

O desfecho da trama, é um tanto gratuito e explicito. O corvo, de Poe, a águia de Prometheus se fundem na gaivota, para selar o destino de Winslow, como o castigo preconizado por Thomas ao alertar que matar gaivotas, traz má sorte aliado aos alertas de que apenas Thomas poderia permanecer no topo do Farol. Apenas os mais experientes podem ver, sentir o inexplicável e não sucumbir á loucura ao qual se sujeitariam os novatos.

Sem dúvida, um dos melhores filmes do ano, seja pelo processo de construção, pelas atuações ou mesmo o conjunto.



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