Por Pachá
O passado as vezes ou para algumas pessoas, merece ficar enterrado na mais pura convicção de que a ignorância (o não saber) guarda em si alguma felicidade ou mesmo paz de espírito. Para outras pessoas o passado é uma pesada e larga chapa de aço que comprime o peito, tira o sono, compromete a sanidade e faz do presente um pesadelo e do futuro uma incredulidade imensurável. Para essas pessoas, e ai se encontra Nawal Marwan (Lubna Azabal), esse passado precisa ser expelido como pus de uma virulenta ferida com a esperança de que a regeneração proporcione um novo e saudável tecido.
Os gêmeos, Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (Maxim Gaudette) estão as voltas com o testamento de sua mãe Nawal que acaba de falecer e como ultimo desejo, deixa algumas instruções para os filhos; encontrar o pai, a quem eles acreditavam que estava morto, e o irmão, do qual eles nunca ouviram uma palavra se quer de sua mãe. A partir dai, os gêmeos ficam divididos, Jeanne está decidida a realizar o desejo da mãe, Simon acha tudo um despaupério, com pensamento cartesiano, morreu acabou. Acontece que para um funeral normal, como quer Simon, sua mãe deixou claro que é preciso cumprir essas promessas, do contrário ela quer que seja enterrada, nua e de bruços, com a cara para o chão, sem lápide e sem epitáfio. A principio ao espectador isso é colocado como uma excentricidade, e ai reside a maestria do roteiro, toda a jornada dos irmãos, primeiramente Jeanne, é para não só entender, e se não justificar, ao menos explicar o último desejo da mãe, mas principalmente desenterrar essa mãe que os filhos nunca conheceram.
O segundo longa de ficção de Villeneuve é de uma precisão, entre a ficção e a realidade, que não deixa dúvidas quanto ao fato de estarmos diante de uma obra prima. Seus trabalhos anteriores, REW FFWD 1994 30min, é um doc. experimental com narrativa de ficção cientifica, lembra muito La Jetee 1962, e narra as lembranças de um fotografo e seus registros na Jamaica. Cosmos 1996 , um longa com vários diretores, também tem estratégia experimental, e uma critica ao mundo do video clipe sensacional. Em 32 de agosto na Terra 1998 e Malestron 2000, Villeneuve aborda os temas mais existenciais amparadas em perdas ou catástrofe pessoais. Em Incendies é possível enxergar esses tons, do documentário, da fragilidade humana diante da vida. E por essa razão, embora não ache a filmografia de Villeneuve regular, é inegável sua versatilidade, que vai do Doc ao sci-fi blockbuster.
As atuações são bem conduzidas, embora Lubna esteja no epicentro dos eventos, não há aquela atuação arrebatadora, e sim uma harmonia com os demais personagens, nos quais os conflitos são bem delineados com uma edição que emprega ritmo e cadência dos eventos com uma sincronia perfeita. A fotografia tem a pegada do documentário, porém se valendo das paisagens e culturas orientais.
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