sábado, 15 de agosto de 2020

One point zero

 

Por Pachá

O debut do diretor Jeff Renfroe, one point zero, no Brasil Paranóia 1.0, é desses filmes que já nasce cult, é um tanto pedante tal afirmação, reconheço, pois não acredito que um filme seja concebido para ser cult, uma vez que o tempo e critica é que vão cunhar tal rótulo, lembrando que Blade Runner foi uma fracasso de público, mas um sucesso de crítica, mas logo alcançou o status de cult.

Simon (Jeremy Sisto) é um programador que está trabalhando em um projeto sigiloso, nem ele sabe para que serve tais linhas de códigos, e como de costume, o prazo está apertado. Ele recebe um pacote, e estranhamente o mesmo está vazio, ou melhor, não se enxerga o que está dentro, mas a partir do momento que Simon abriu o pacote, ele foi infectado por vírus nanomites (nano tecnologia), e então ele desenvolve uma paranóia, e nesta reside a engenhosidade do roteiro, a paranóia de one point zero, não é apenas um lapso ou falha de racionalidade, e sim uma falha no código estrutural da realidade, não se trata da concepção psicanalista de que o mundo está conspirando contra o sujeito, e sim o sujeito contestando a realidade que o cerca.

Com atmosfera pesada e personagens descolados da realidade, bem ao estilo kafkiano o filme vai entregando aos poucos uma trama na qual a conclusão fica a cargo do telespectador. Há a explicita critica ao consumo, e de como as grandes corporações desenvolve por meio da neuromarketing mecanismo para fidelizar clientes, aqui, isso se dá pela nano tecnologia para direcionar clientes para a marca FARM. Há também uma interpretação de que o prédio em ruínas onde reside profissionais ligados a industria do mundo virtual seja um laboratório de  experimentos que vão além de estudos comportamentais, no qual o moradores são as cobaias. 


Os vizinhos de Simon compõe um núcleo de indivíduos heterogêneo. Trish (Debrah Unger) é uma enfermeira em um hospital de tratamento do câncer, e nas horas de folga se entrega ao sexo sado/maso como forma de se sentir viva, suas experiencias são aproveitadas por outro morador e vizinho de andar que desenvolve jogos de realidade virtual envolvendo sexo. Torre (Udo Kier) trabalha com IA e nanotecnologia aplicada a objetos, ambos assim como Simon, são solitários e se conectam com o mundo por meio de computadores ou dispositivos de realidade virtual. Dentre os personagens enigmático há Howard (Lance Henriksen) um sujeito que cuida da manutenção do prédio e o courier Nile (Eugene Byrd) e pelo fato de serem os únicos na trama que não estão infectados, nos leva a crer que fazem parte do mesmo experimento, uma espécie de agentes mitigadores de possíveis efeitos colaterais.

A construção sonora e a fotografia criam um convincente ambiente cyberpunk. A câmera de Christopher Soos mais conhecido pelos video clipes, e esse é seu primeiro longa, carrega essa linguagem de video clipe, mas que confere grande desconforto para imprimir o estado paranóico de Simon. Não há qualquer intenção de realizar mais do mesmo, não há economia de ângulos, movimentos, foco, desfoque em composições que ficam ainda mais atraentes e dark pelo trabalho de arte no qual há grande referência a Matrix 1999. Há também ecos de Cronenberg, David Lynch na estrutura narrativa e elementos cênicos.

As atuações é outro ponto positivo do filme, no qual todas as personagens desenvolvem papel importante na trama com ótimas falas, participações e entrosamento, e que certamente foi algo que transcendeu as linhas do roteiro. E creio que são esses detalhes, não intencionais ou não planejados,  que vão além do resultado esperado pelo projeto que confere o status de cult a um filme.


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