segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Cafarnaum

 

Por Pachá

Cafarnaum em libanês significa caos, e as primeiras cenas são de uma crueza, de uma verdade incômoda e paupável, na medida em que sabemos que a miséria ali exposta como uma grande fratura exposta, não é exclusividade libanesa, é fruto de um descaso com politicas publicas para redução das desigualdades. E também nos dá a medida do quanto estamos falhando enquanto espécie. E quando vemos uma criança dizer; "eu quero processar meus país" isso só alimenta tais convicções.

Nadine Labaki é um diretora comprometida em criar debates sobre as mazelas de seu país, ela aparece no filme como a advogada de defesa. Há também discursões paralelas, mas não sem importância como, até que ponto as tradições culturais são uma violação aos direitos humanos.

Zain (Zain Al Rafeea ) que não é ator, é um adolescente, que ainda carrega a estatura de uma criança, e o filho mais velho de uma família síria que migrou para o Líbano. São tantos os irmãos que ele perdeu a conta. Os maus tratos em família é uma constante, e como ele mesmo vem a  dizer, a forma mais "carinhosa" de falarem com ele é "sai daqui, seu filho da puta". Muito apegado a irmã, Sahar (Cedra Izzam) de 11 anos, Zain tenta protege-la ao saber que ela pode ser prometida em casamento a Suad, um adulto na casa do 30 anos. Temendo o pior Zain planeja uma fuga com Sahar, mas não funciona, e ele foge de casa. A partir dai, Labaki vai expondo as feridas sociais, as desigualdades, a miséria, o preconceito de um país mergulhado no caos social. 


Um ponto bastante positivo, e de impacto é a montagem do filme, os eventos são apresentados após vermos Zain e Nadine (Advogada) em um tribunal, e a inevitável pergunta, o que uma criança franzina, raquítica, de 12 anos fez para ser presa? E ainda mais impactante é a convicção com que essa criança responde não só estar ciente do ato, mas que é preciso esfaquear esses "porcos filhos da puta", e então somos entregues aos fatos que levaram Zain a prisão.

A trajetória de Zain cruza com uma imigrante etíope, que tem um filho de colo, que não pode ser visto, pois dado a sua situação ilegal no país, pode perder o filho para uma instituição social e ser deportada sem a criança. Essas duas história se encontram e se separam para finalmente se reencontrarem no desfecho no tribunal, o que parece ser um ciclo vicioso dessa injustiça social que desumaniza ainda mais esses indivíduos marcado pela pobreza extrema a mercê do caos social e econômico.

As situações vividas por Zain pelas ruas de Beirute é tão dramática e de tamanha veracidade que choca mesmo para quem vivem em países periféricos onde a pobreza é dominante e as cenas são familiares. A fotografia tem a pegada documental, caótica, urgente como a fome de Zain, e atenta como a sagacidade dessa criança que não conhece outro estilo de vida que não seja a sobrevivência, a luta diária pela comida, pela moradia. 

Um filme potente em sua mensagem e em sua estrutura narrativa, que nos faz pensar os arranjos sociais que negligencia os menos favorecidos.

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