Por Pachá
Esse filme não foi muito bem recebido pelo público na ocasião de seu lançamento. No final da década de 70, período da ditadura na Argentina, vários rolos foram apreendidos no laboratório. O filme caiu no esquecimento, e recentemente foi encontrado uma cópia 35mm, o que possibilitou restauração e redescoberta pelo público com maior distanciamento dos fatos possibilitando maiores interpretações.
A primeira coisa que chama atenção em invasión é a fotografia de Ricardo Aronovich, atualmente com 90 anos. A cena do bar, em que acontece o primeiro encontro da célula revolucionária e os homens de branco, é sensacional, o movimento de câmera e enquadramentos são maravilhosos. O preto e branco contrastante ao estilo noir dos anos 40 e 50 confere a trama ainda mais mistério.
O roteiro que é do escritor surrealista Borges é igualmente encantador quanto intrigante e não entrega a trama muito fácil e carrega algo de surreal, muito embora saibamos (ou ao menos a sinopse diz) que se trata de um tema sobre a ditadura argentina, a atmosfera lembra mais uma trama alienígena, e creio que dai o título também carrega essa dubiedade, os diálogos e figurinos ajudam bastante a criar essa percepção. Os homens bons, de pretos que se conhecem como ordem do sigilo. Os homens de branco, que se valem de toda tecnologia para perseguir, torturas a ordem do sigilo. E nesse ponto reside todo mistério e questões que não são respondidas, o que talvez tenha frustrados o público da época. É importante frisar que em nenhum momento o termo ditadura é citado.
A construção dos personagens é algo muito bem realizado, Herera (Lautaro Murúa) é uma espécie de líder destemido, um jedi que está as vésperas com um carregamento de armas para fortalecer a resistência. Seu par romântico, Irene (Olga Zubarry) também faz parte da ordem, porém nenhum dos dois sabem de suas participações nessa organização. Don Porfirio (Juan Carlos Paz) é o arquiteto e pensador da ordem, o grande mapa da cidade no qual ele organiza os movimentos da ordem, lembra um tabuleiro de xadrez, e suas conversas com o gato, dá o toque surreal, ainda mais quando em uma das cenas aparece livro de Borges "O milagre Secreto".
Os eventos são bem encadeados muito embora tenham até certas descontinuidades na qual, em minha percepção, até estas acabam fazendo parte da narrativa enigmática.
Hugo Santiago retorna a Buenos Aires após uma temporada em Paris, onde foi discípulo de Robert Bresson. E então filma Invasión, seu primeiro longa. Antes ele havia filmado dois curtas.
É um filme curioso, belo e uma trama nada previsível com um desfecho enigmático. Lendo as curiosidades do filme, há até uma questão quanto o espaço geográfico em que passa o filme, que não é Argentina e sim uma cidade fictícia, Aquilea letreiro que aparece logo no inicio do filme.
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