Por Pachá
O historiador israelense Harari investiga a existência dos sapiens até onde as teses e descobertas das ciências sociais, biologia e também econômica permitem, o que de certa forma confere a obra uma certa datação, pois tão logo novas descobertas sobre os sapiens sejam apresentadas coloca a obra na seção de nostalgia. A leitura é prazerosa pela linguagem didática e bem estruturada cronologicamente sobre a evolução da humanidade.
Publicado originalmente em 2011, e em 2015 para diversos idiomas alcançando o status de best seller. O livro foi elogiado por Jared Diamond, autor de Armas, germes e aço, que foi professor de Harari. A obra também foi muito bem aceita pela comunidade acadêmica. O criador do facebook também rasgou elogios a obra, bem como os jornais New York times, The Guardian etc.
o recorte de pesquisa é largo, 70mil anos, quando se inicia a revolução cognitiva, passa pela revolução agrícola, industrial para chegar a sociedade contemporâneos de consumo hiper conectada. A narrativa é fundamentada em teses científicas das ciências sociais e amparada pela psicologia e economia. A tese central é que a especie humana teria evoluído a partir da revolução cognitiva na qual o sapiens sofreu pouco ou nenhuma influência de outros ecosistemas e que a cooperação e organização social foi determinante para colocar o sapiens no top da cadeia alimentar.
"A revolução cognitiva que transformou o homo sapiens de um primata insignificante no senhor do mundo não demandou qualquer mudança notável na psicologia ou mesmo no tamanho e forma do cérebro dos sapiens. Ao que parece envolveu não mais do que algumas pequenas mudanças na estrutura cerebral interna. Talvez outra pequena mudança fosse suficiente para iniciar uma segunda revolução cognitiva, criar um tipo completamente novo de consciência e transformar o homo sapiens em algo totalmente diferente"
As recorrentes ilustrações para melhor entendimento torna a assimilação das teses e pontos de vista do autor mais palatável.
Os sapiens da Indonésia, descendentes dos macacos na savana africana, se tornaram marinheiros sem o desenvolvimento de nadadeiras e sem ter que esperar que seu nariz migrasse para o alto da cabeça como fizeram as baleias. Em vez disso, construíram barcos e aprenderam a navegar.” (p.74)
A análise do autor sobre a influencia dos sapiens na extinção de outras espécies está bem alinhada com o antagonismo entre socioambientalistas e preservacionistas no qual o autor cai de pau no "bom selvagem"... Por onde o sapiens passava acontecia a diminuição da mega fauna.
“Não acredite nos abraçadores de árvores que afirmam que nossos ancestrais viveram em harmonia com a natureza” (p. 84).
Há várias provocações no livro, como na análise da domesticação das plantas na qual Harari sustenta que as plantas domesticaram os sapiens e não o contrário. E vai além, diz que na revolução agrícola, a descoberta, plantação e estoque do trigo arruinou a dieta variada dos caçadores coletores e também nunca se trabalhou tanto. E são passagens como essa que torna a leitura agradável e de fácil assimilação.
No capitulo das ordens imaginadas a coisa fica ainda mais interessante, quando Harari sustenta que religião, comunismo, nazismo, capitalismo é tudo uma questão de semântica.
É apenas um exercício semântico. Se uma religião é um sistema de normas e valores humanos que se baseia na crença de uma ordem sobre-humana, então o comunismo é uma religião tanto quanto o islamismo” (p. 236)
Quem leu obras de Arnold J. Toynbee e J. Diamond verá grande semelhança na estrutura narrativa de Harari, são autores igualmente que prezam pela analise conjuntural ao colocar multíplos pontos de vistas a partir de teses pesquisas de várias áreas do saberes, nada mais natural já que a história é uma ciência interdiciplinar.
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