Por Pachá
Ao final do filme de Jayro Bustamante ficou ecoando em minha cabeça a letra da música "Desafiando Roma" da banda Mundo Livre S/A...
"os cadáveres de Corumbiarajamais serão esquecidos
Que as autoridades agonizem
Em noites intermináveis de pesadelos."
A guerra civil da Guatemala é pouco falada, mas as mais de 200 mil mortes, na sua maioria índios descendentes maias, que ocorreu nos anos 80, ainda está sob a ótica da história do tempo presente. Jayro parte desse fato histórico para criar uma narrativa cuja a realidade desencadeia forças sobrenaturais quando a justiça não proporciona a reparação do passado. É importante frisar que não há corpos ou cabeças retorcidas tão pouco assombrações andando pelo teto, e sim um uma trama de ajustes de contas sobre os horrores da politica militar para implantar um governo que ignora toda a população civil amparada no realismo fantástico.
A condução da trama é feita pela ótica da família do general Enrique (Julio Diáz) um dos responsáveis do massacre e Alma (Maria Mercedes Coroy) uma misteriosa empregada recém contratada. E a partir do folclore da lenda espanhola, das almas que choram pelos seus filhos mortos, o roteiro desenvolve uma trama de claustrofobia quando coloca a casa luxuosa do general sob cerco de uma multidão que cantam, gritam assassino, genocida dia e noite, clamando por justiça após o general ser absolvido de seus crimes, apesar de todas as provas e evidências do genocídio. Nessa luxuosa mansão também há um microcosmo que trava o embate de lutas de classes, empregados indígenas e empregadores da alta esfera aristocrática, bem marcada no primeiro ato.
É nítido o esforço do roteiro em retirar qualquer humanização do general e sus esposa, para quem as índias são prostitutas que só sabem fazer filhos, e que a limpeza étnica era necessária para cria uma identidade verdadeira ao pais. E ao empregar um terror com vasto lastro politico Jayro foge dos clichês dos filmes do gênero, ou seja, não se utiliza de jump scare, de sangue e espíritos malabares acrobáticos. O suspense fica por conta dos eventos que aos poucos vai correndo a sanidade da família. Há alguns elementos, como os sapos, por exemplo que em minha percepção não encontram conexão com a trama (talvez parte da magia negra), diferente da água, que é explicito seu significado.
A fotografia de Nicolás Wong e a movimentação dos atores criam intensa simbiose para criar o clima de terror e tragédia iminente, já que há poucos efeitos ou CGI, e tudo é amparado em eventos que mais lembram um sonho, ou melhor um pesadelo acordado com fantasmas de carne e osso.
Um filme que merece todo esforço para ser visto, seja pela bem desenvolvida técnica cinematográfica seja pelo teor histórico.
Legendas em inglês
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