segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Deserto dos Tártaros 1976

Por Pachá
O Deserto dos Tártaros (Il deserto dei Tartari) de 1976 é um filme intrigante, pois a mensagem passada pelo diretor, Valério Zurlini é subliminar. Inspirado no livro, “O Deserto dos Tártaros do escritor Dino Buzzati publicado em 1940. 

O filme faz um paralelo entre a inutilidade do poder e a maneira como aceitamos a passagem do tempo, e como esse age sobre nossas vidas, e partindo dessa premissa Zurlini narra de forma poética a saga de um oficial, Drogo (Jacques Perrin), do império austríaco que em 1907 é enviado para um distante forte de guarnição de fronteira, chamado forte Bastiani, lugar onde o tédio e a doença estão a espreita, e se esses não o levar a convalescência a loucura o fará, é ai que entra a ação do tempo, a passagem dele e seus efeitos, principalmente em espíritos arredios, sedentos de glórias e honras, que no caso de Drogo nos seus tenros 20 anos clama por tal. 

Em Bastiani Drogo se vê consumido por uma rotina que o deixa cada vez distante de se tornar um oficial de verdade, forjado sob as honras da guerra, em Bastiani o inimigo é invisível, e sua espera nos faz esquecer a finitude das coisas, como se fôssemos imortais. As locações é um deleite a parte, realizadas em construções milenares do Irã, a fotografia e movimentos de câmera capta a solidão e melancolia contida nesse mundo de rochas, areia e nevoeiro tudo minuciosamente trabalhado por Zurlini, que levou cinco anos para finalizar o filme. O elenco que conta com Giuliano Gemma, no papel do major com intenso senso de dever, Max Von Sydow, na farda do comandante Hortiz, Fernando Rey em uma interpretação curiosa. E por menor que sejam as participações do elenco escalado, Zurlini tirou deles interpretações impecáveis, convincentes que quase nos faz esquecer que o filme tem mais de duas horas e meia de duração, claro que para quem não está familiarizado com este tipo de narrativa, poética, pode parecer maçante, mas a experiência é compensadora, pois Zurlini não é dado a voyeurismo, e suas imagens tem significado, cor, e compõe com imenso significado o onirismo de seu estilo de filmar . O deserto dos Tártaros pode sem exagero algum a ser comparado a esperando Godot de Beckett.



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