sábado, 24 de março de 2012

O Som e a Fúria

Por Pachá
André Bleikasten renomado professor de literatura americana, e profundo estudioso das obras de Faulkner, o coloca como um dos poucos escritores que revolucionou a escrita, ao lado de Proust, Joyce, Kafka só para citar alguns.
 
É unanimidade dizer que ler O som e a Fúria não é tarefa fácil. De fato pra quem não estar acostumado com narrativas liquida que precisam de extrema atenção do leitor pra ganhar forma, possivelmente abandona leitura ainda no primeiro capitulo. O estilo muito bem apropriado por Faulkner, um fluxo de consciência (stream of consciousness), usado por escritores anglo saxão, seguindo fluxo natural dos pensamentos, sem rédeas, com saltos no tempo, personagens que se fundem sem muitos avisos, caso de Quentin irmão de Candy e Quentin filha de Candy. Tais detalhes requerem atenção do leitor, pois o objeto dissecado por Faulkner é irrisório, mas que assegura sua criatividade, pois a genialidade reside em se apropriar de banalidade do cotidiano e criar verossímeis conexões entre realidade e ficção.
 
O livro narra desintegração de aristocrata família sulista norte americana, Os Compson. Na primeira parte do livro 7 de abril de 1928, desconforto, nada parece concatenar com nada, após vinte primeiras páginas nos damos conta de que a historia é narrada por um débil mental, Benjy. Seus irmão, Quentin, Jason e Candy o leva pra cima e pra baixa na já decadente propriedade dos Compson, onde diversão maior é acompanhar jogadores de golfe em vasto campo, outrora propriedade dos Compson. Nessa primeira parte há apenas superficiais pistas dos conflitos que irão mover os personagens. A relação incestuosa de Quentin e Candy, a revolta de Jason, a mãe hipocondríaca, Caroline, o pai, Jason alcoólatra, a resignação de Dilsey empregada negra que ainda mantém ferrenha devoção aos Compsons.
 
Na segunda parte, 2 de junho de 1910, onde há gigantesco salto cronológico, encontramos Quentin adulto, longe da família e estudante de Harvard. Com narrativa mais concatenada, há certo alivio, a historia da decadente família toma forma, bom saber que ainda assim o drama dos Compsons não é entregue de bandeja, Faulkner pede a cada linha a cada parágrafo, desenfreado, sem vírgulas, pontuação caótica, atenção do leitor. Nessa parte rendição ao gênio de Faulkner é inevitável, se completa as características que o consagraram, diferentes pontos de vistas, narrativa não linear e fragmentada, e maestria no emprega do fluxo de consciência.
 
[...] Dou-lhe esse relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e néscios [...]
 
Para cada ponto de vista Faulkner emprega estrutura estilista diferente, aliás, para alguns estudiosos de sua obra, tal estilismo é revolucionário até hoje. A criação de Yoknapatawpha região ficcional que retrata o pobre e decadente sul da América, escravocrata vencido na guerra da secessão, 1861 a 1865 é o pano de fundo para Faulkner narrar a trágica trajetória dos Compsons. Em entrevista, Faulkner diz que o livro é sobre a perdição de duas mulheres, mãe e filha. Candy e sua filha Quentin.
 
Publicado em 1929. Só em 1946 ganhou apêndice no qual traz a tona, antepassados dos Compsons. Não que isso traga mais facilidade a leitura, apenas nos aprofunda no contexto da derrocada dessa ilustre decadente familia.

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