domingo, 28 de outubro de 2012

O Ovo da Serpente 1977

Por Pachá
Há uma questão que intriga ou pelo menos sucinta acaloradas discussões. Teria o fascismo alemão se desenvolvido a despeito da subida ou não de Hitler ao poder? Em The serpent's Egg Bergman parece apontar para um desastre inevitável. A elite alemã sabia o quanto Hitler era inepto, ou pelo menos assim o estimaram, mas o fuhrer soube tirar partido dessa posição, manipulou a igreja e elite para eliminar oposição e cair nos braços do povo que clamava por um salvador. A democracia, não só na Alemanha mas em grande parte da Europa, estava seriamente ameaçada pois se mostrou débil ao lidar com tensões sociais e crises econômicas sem precedentes na história da humanidade decorrente da I Guerra Mundial abrindo grande via para movimentos nacionalistas alimentando sentimentos de revanchismo e vingança.

Na Berlim de 1923 perambula pelos bares e cabaret, Abel Rosenberg (David Carradine) um famoso trapezista que abandonou o circo na Suiça e se instalou na bela Berlim juntamente com seu irmão Max (Hans Eichier) e sua cunhada Manuela (Liv Ullman). A cidade vive um estado de catástrofe iminente onde a única coisa que funciona é o medo. A SA (Sturmabteilung) já implantava a tática do terror como disciplina perseguido alguns judeus, homossexuais e artistas. Abel por ser judeu vive sob esse medo. Ao chegar no quarto em que vive com seu irmão, encontra Max com os miolos estourados (suicídio). Desesperado ele procura Manuela que trabalha em cabaret como dançarina. Abel sente que algo está sendo gestado nas entranha da cidade, mas não sabe exprimir o que sente e pensa. A moeda alemã, o marco, praticamente não existe de tão desvalorizada, o dinheiro chegou a ser impresso em papel jornal. A população se submete a qualquer coisa por um punhado de dólares ou comida. Entra em cena o misterioso Vergerus (Heinz Bennet) colega de infância de Abel quando a família passava o verão nos alpes alemães. Vergerus trabalha para uma certa clinica Santa Anna que na verdade é uma fachada para experimentos comportamentais através de privações, dores e uso de drogas. 



Embora ovo da serpente seja um filme diferente de toda as obras anteriores de Bergman ainda sim é possível identificar os temas recorrentes em seus filmes, suicídio, desespero diante do desconhecido, desconstrução do casamento e da família. O silencio de Deus  na explicita cena do encontro de Manuela com o padre e também a condição do artista. A fotografia de Sven Nykvist magistral como sempre capta com maestria a atmosfera pós guerra e corrida armamentista da Alemanha.

As interpretações estão na medida do roteiro, Carradine em ótima forma soube dar sentimento e desespero ao perdido Abel. Ullman de longa parceria com Bergman está correta e a vontade em papel que pouco lhe exigiu, e quando o fez deu mostra da excelente atriz que é. Herr Vergerus também dá peso a trama e sua ultima participação no dialogo com Abel,"Esse Hitler não sabe o poder da força que desencadeou" e desse dialogo que fica impressão que Bergman acreditava que com Hitler ou não o nacionalismo alemão cumpriria seu oficio. É bom frisar que nesse período, novembro de 1923 Hitler foi preso por tentar golpe juntamente com o partido nazista que ficou conhecido como putsch da cervejaria, nesse período Hitler escreve seu manifesto nazista e percebe na prisão sua grande popularidade através das cartas que recebe aos milhares do povo alemão.

O video que segue, é do curso sobre Bergman que aconteceu no CCBBSP. No Rio tive a oportunidade de participar dos 3 dias...








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