Por Pachá
Eva Matei (Dorotheea Petre) é uma jovem adolescente descobrindo os duros caminhos que a levará a vida adulta. Normalmente um processo doloroso, repleto de incertezas e decepções, pior ainda quando o meio lhe impões obstáculos extras. No caso de Eva há um complicador a mais, ela vive numa Romênia sob regime socialista onde sua família e grande parte da população vive sob condições precárias de acesso a bens de consumo e até alimentação. Pra amargar ainda mais a situação, sua família recebe ajuda de policial odiado pela comunidade. O terror pregado pelo sistema socialista stalinista faz com que Eva seja expulsa da escola e da juventude comunista pelo corriqueiro acidente de quebrar busto de Nicolae Ceaușescu (líder do partido comunista romeno eleito presidente em 1967) em escapulida com namorado no estilo Ferris Bueller day off. O namorado que é filho do tal policial que ajuda a família de Eva nega participação em tal acidente. Considerado falha grave do culto a personalidade, recai sobre Eva toda culpa. Ela então é enviada pra escola reformatória para onde são enviados alunos não exemplares para o sistema socialista romeno.
E pra não fugir a regra dos filmes do gênero, há o olhar de uma criança Lalalilu (Timotei Duma) irmão caçula de Eva. que diante da pureza da infância assiste as duras privações da sua família. A cena em que Lalalilu tenta suicídio é tocante, tanto pelo fato desesperado de uma criança de 8 anos que diz para mãe que quer morrer, tanto pela simplicidade e fluidez com que a cena é captada. Mas o roteiro opta por narrativa seca e direta ao invés de centrar narrativa na percepção da criança varada pelos acontecimentos da historia. Eva que sofre de maneira resignada, não esboça qualquer atitude de revolta, até mesmo diante da covardia do namorado de não assumir culpa por ter quebrado o busto do ditador.
Na nova escola Eva faz amizade com Andrei sujeito estranho, menosprezado e cujo os pais foram preso sob acusação de conspiração contra o ditador Ceausescu. Mas Andrei nutre sonho de fuga da Romênia para Europa Ocidental o que agrada Eva que se contagia desse plano já que se sente um peso para família. Entre os dramas de Eva e família, Lalalilu também possui seus planos pra lá de mirabolantes no intuito de salvar sua família e impedir que Eva deixe a Romênia. E nesse ponto há mérito de roteirista e diretor ao quebrar paradigmas nos filmes do genro. Lalalilu não é mero passageiro da historia, mas agente transformador, ao ganha concurso para recitar poema ao ditador, quando na verdade esconde planos de assassina-lo.
O diretor Catalin Mitulescu que também assina o roteiro conta uma historia tocante sem apelos dramáticos ou emocionais onde a simplicidade e naturalidade permeia todas as cenas. Os sonhos de liberdade de escapar das garras do socialismo stalinista de Ceausescu também está bem representado na comunidade do bairro onde família de Eva e Lalalilu vivem e igualmente sofrem o peso das privações e terror de ser preso no meio da noite por acusação qualquer de traição ao partido.
Tecnicamente não há nada que chame atenção no filme, dado que se trata de produção de baixo orçamento, caindo sob narrativa e excelentes atuações de Dorotheea e Duma a grande aposta do filme, que emociona e agrada. Alias Doroteea lembra Maria Flor.
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