sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Janela d'alma


Por Pachá
O documentário de Walter Carvalho e João Jardim elabora intrigante, tanto quanto incomodo, olhar sobre a visão. Partindo de famosa frase de Da Vinci “ O olho é a janela da alma, é o espelho do mundo” os diretores fundamentados em conceitos filosóficos e biológicos, se impõe a difícil tarefa de explicar o que é a visão. Para tal os entrevistados e personagens, todos, apresentam alguma deficiência de visão, alguns míopes outros cegos completos. E como ponto de fuga, a subjetividade de ver, da experiência sensorial, de aprendizado que se forma a partir da luz e da ausência da mesma, exploradas pelo tato, audição, criando um mundo único e por vezes intransferível.

A tese central do filme é um tanto pretensiosa, tentar mostrar que a visão é uma construção cultural e portanto, inata a natureza, certamente Locke, Hume e Kant para os quais o conhecimento provem da experiência sensorial, do empirismo e da razão, condenariam tal pretensão. Mas isso não pode se configurar como obstáculo para reflexão desse importante sentido. E com essa pretensão o documentário ganha atmosfera densa nos relatos dos personagens que descrevem como vêm o mundo, e como interpretam aqueles que os rodeiam, e como estes os vêm. As cenas de foco e desfoque da fotografia do próprio Walter Carvalho que entre outros trabalhos, assina a direção de fotografia de, Terra Estrangeira, Abril despedaçado, capta, ainda que de forma sutil, o mundo sem visão. 



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