domingo, 18 de janeiro de 2015

Caravaggio


A incredulidade de São Tomé - 1602

Por Pachá
Briguento, debochado, jogador, boêmio. Estes adjetivos permearam a atormentada vida de Michelangelo Merisi de Caravaggio [1571 - 1610],  mas de talento inegável, talento este que foi preciso quase quatro séculos para reconhecimento. E graças a Roberto Longhi que em 1911, ao se graduar em História da Arte, tem como tema de sua tese, vida e arte de Caravaggio. 

Por retratar a realidade em suas obras, o estilo de Caravaggio foi de difícil aceitação para os críticos da época. Seu estilo era tido pelos demais pintores italianos do período como vulgar, pois em suas telas o belo e o feio tinham igual dimensão, pois é assim que a vida nos transpassa. Em uma época em que as pinturas barrocas tinham como tema os assuntos bíblicos, era inaceitável retratar santos e santas sem a devoção e nobreza  que o mercado de então demandava. O pintor viveu em alguns momentos em condição de quase total mendicância, seus primeiros quadros após deixar oficina de D'Arpino foram vendidos por ninharia. 

Caravaggio tinha em sua pintura, influência dos pintores lombardos do norte da Itália, no qual predominava assuntos do cotidiano, pintores de taberna como eram considerados, pois em seus temas apareciam bêbados, cortesãs e demais excluídos da época. Para igreja, grande mecenas, beirava o herético.

E o que torna o estilo de Caravaggio único é que mesmo retratando de forma vulgar santos e passagens bíblicas, ele era um pintor culto. O resultando de sua pintura não era fruto apenas de um olhar vulgar com conhecimento de forma e cor. Em seu estúdio, as paredes foram pintadas de preto e com isso observava a luz que entrava pelas janelas, claraboias e os efeitos nos modelos. É também sabido que Caravaggio utilizava espelho para fazer a composição e por ser mais econômico, pois para quem esta a caça dos primeiros clientes para sustento, gastos com modelos vivos significava dormir ou não com uma refeição quente no bucho. A técnica de espelho era bem conhecida pelos pintores do quinhentos. E a partir da experimentação e uma forma nova de compor suas telas, o artista vai alimentar sua ideia pela captação da realidade. É também relevante lembrar que o pai de Michelangelo Merisi era um comerciante bem sucedido no burgo de Caravaggio.



Primeiros Quadros - Já demonstrava uma técnica inédita de ver e pintar, mas nem por isso garantiu ao pintor lugar entre os grandes da época.

Baco dos Uffizi

Cigana que lê a sorte

Repouso na fuga para o Egito

Madalena arrependida

Menino mordido por um lagarto


Mas ao entrar no círculo de amizade do revendedor de quadros em San Luigi dei Francesi, mestre Valentino, Caravaggio vê sua sorte mudar, pois dessa relação surge contato com cardeal Del Monte que acaba por apadrinha-lo. Essa iminente figura era parente de um papa. E logo as primeiras encomendas não tardaram a surgir. A data desse fato é incerta, pois não se sabe em que ano exatamente o artista chegou a Roma. É dessa época:

Trapaceiros

Tocador de Alaúde



Cabeça de Medusa
Técnicas recentes para validação de autenticidade, comprovaram que essa pintura foi realizada diretamente no escudo, ou seja, Caravaggio não trabalhou, por se tratar de uma região convexa, com esboço como se imaginava.




Versão mais antiga de São Matheus para capela Contarelli em San Luigi dei Francesi. Essa obra se perdeu em Berlim em 1945. Caravaggio deu mostra de que a única coisa que sabia da condição evangélica era que os apóstolos provinham do povo. Porém São Mateus era um coletor de impostos com prática na escrita e ábaco. O quadro foi recusado pela igreja, pois julgou tal ignorância inaceitável. Note que o anjo parece estar ensinando São Mateus a escrever.


Mas Caravaggio não estava disposto a perder patrono tão importante e providenciou outra obra. Que pode ser vista na Igreja San Luigi dei Francesi em Roma.

São Mateus - 1602
 


Caravaggio vai aprofundar seu estilo ainda mais no equilíbrio entre claro e escuro.
Sacrifico de Isaac - 1603

Amor Verdadeiro - 1602
Davi e Golias - 1600

Judite e Holofernes 1598-1600
interpretação do antigo testamento, livro de Judite que seduz e embriaga para depois degolar o general assírio Holofernes e salva seu povo do julgo de Nabucodonossor. A mesma modelo Judite ou semelhante volta em Santa Catarina. Alguns críticos do pintor afirmavam que Caravaggio não sabia representar rostos, ou seja, não tinha muita perfeição em retratar rostos com fidelidade. 


A vocação de São Mateus - 1599-1600
Nessa interpretação Caravaggio retrata São Mateus como jogador. A luz que entra no aposento, a luz divina que vem buscar Mateus. O mancebo com chapéu de pluma é o mesmo dos trapaceiros. O contraste das cores vivas com reforço dramático das sombras e luzes confere a cena poderosa composição de profundidade e volume.  

 Sepultamento de Cristo - 1604-04

Monsenhor De ' Massimi abre concorrência para um Ecce Homo entre três artistas de grande reputação na época, Caravaggio, Cigoli e Passignano. Foi escolhida a obra de Cigoli.  Caravaggio que durante a composição da obra percebeu o engoda de tal licitação, explica seu auto retrato de deboche, já prevendo o resultado da competição.

Ecce Homo - 1605
 

Entre os anos de 1605-6 Caravaggio recebe a encomenda, do então advogado do Papa,  Laerzio Alberti Cherubini que pretendia ornamentar a capela na igreja das Carmelitas de Santa Maria della Scala em Roma. A morte da Virgem foi uma das mais problemáticas obras de Caravaggio e também uma das mais curiosas, pois recusada pela igreja por não apresentar a virgem com a nobreza e devoção, e sim uma mulher afogada, segundo os bons padres. E de fato Caravaggio estudou cadáveres para tal composição. No entanto ela foi comprada pelo duque de Mântua para sua coleção particular, mas não antes de um exposição ao publico realizada a pedido por ninguém menos que Peter Paul Rubens, pois a obra não ficava aos olhos de muitos. Em Mântua a obra foi visitada por uma legião de pintores que queriam estudar a obra tal era sua fama. Segundo estudiosos de hoje, um dos principais motivos da recusa da igreja, foi o fato de Caravaggio, como de costume, ter utilizada uma cortesã como modelo para representar a virgem, o que causou indignação aos padres da igreja. Em muitas de suas obras ele utilizavam como modelo, campesino, taberneiros e toda gente da raia miúda o que indignava os nobres e a igreja.

Morte da Virgem - 1605-6


Em 1608 recebe A cruz de cavaleiro a mais alta condecoração que um artista poderia receber na época. Uma desavença com um oficial de justiça leva o artista ao cárcere, que dele foge como um amante romântico. Nesse período Caravaggio esta profundamente mergulhado no roman noir.

Em seu retorno para Roma, após saber que seu indulto seria assinado por Paulo V em breve. Em 1610 Partindo de Nápoles para Port ' Ecole e dai para Roma, foi detido pela policia espanhola que o confundiu com outro procurado. Mas ao libertarem apreendem sua parca bagagem, que contava com poucos quadros para presentear seus benfeitores. Vagueado pela orla infestada de malária o artista contraia a adoeça e morre por volta de 18 de julho de 1610.


Cupido adormecido - 1608


Davi com Cabeça de Golias 1609-10

São João Batista - 1609-10



Flagelação 1607


Bibliografia

1- "Caravaggio",  LONGHI, Roberto - editora Cosacnaif, ed. 2014
2- "A Historia da Arte",  GOMBRICH, E.H - editora LTC, ed. 2013




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