domingo, 8 de fevereiro de 2015

Hiroshima Mon Amour


Por Pachá
Segundo as próprias palavras do diretor, Alain Resnais em entrevista, o filme foi inicialmente idealizado como documentário, mas que no decorrer das filmagens a história de amor que era para ser papel de fundo para o horror que foi a destruição da cidade de Hiroshima por uma bomba atômica, tomou conta de direção e roteiro. Este alias uma das bem sucedidas parecerias entre diretor e escritor, no caso Marguerite Duras, até então já conceituada escritora francesa, que mais tarde também veio a dirigir seus próprios roteiros. Marguerite esta para o nouveau roman, movimento literário que rejeitou caraterísticas reinantes do romance da época, assim como Resnais esta para o nouvelle vague.

As cenas inicias do filme comprovam as palavras de Resnais, ficamos com a certeza de estar diante de um documentário. A cenas de horror, destruição do hecatombe nuclear que o pretenso filme que a atriz sem nome, vivida por Emmanuelle Riva foi filmar em Hiroshima é tão autentica... A câmera passeia por corpos e rostos fossilizados que um dia abrigaram vida, amor, esperanças,  agora guardam o horror de lembrança que não pode ser esquecida. 

Mas quem foi a Hiroshima e se deparou com nada causando pela bomba, não poder ter nada para lembrar. Essa é primeira questão levantada pela narrativa que vai se aprofundando nos conflitos dos personagens a medida que passado é requisitado pelo presente.

nouvelle vague encerrava a máxima de que diretor e roterista era uma espécie de filosofo e naquela época tudo dito em francês parecia ganhar status de filosofia. Não é o caso da maioria dos filmes desse período, muito menos de Hiroshima onde participação de Marguerite no roteiro alcança essa pretensa filosofia. Como cena do bar em que os dois personagens se transformam, ela em Nevers cidade onde viveu seu grande e verdadeiro amor com soldado alemão durante fim da segunda guerra. E ele em Hiroshima. Os dois carregam lembranças de perdas e morte. Nesse ponto o filme faz uso intenso do flashback para mostrar o martírio daquelas que se entregaram aos inimigos em tempos de guerra. E a carga dramática é bem carregada por Emmanuelle Riva que até então era uma atriz de teatro e a convite de Resnais teve seu primeiro papel no cinema e consegue, nas palavras da própria Marguerite, realizar tudo o quanto ela havia idealizado para a personagem.

"... Em alguns anos quando eu tiver te esquecido, e outras aventuras como esta me acontecerem por força do hábito. Lembrarei de você como símbolo do esquecimento do amor. Lembrarei dessa história como horror do esquecimento..."

A historia de amor a primeira vista da atriz que vai a Hiroshima e arquiteto Japonês (Eiji Okada) passa ao longe dos arquétipos encenados em filmes românticos. O affair dos dois continentes, é imerso na racionalidade cartesiana de ponderar sofrimento e estado de amor incondicional. Ela  é casada, e deixa claro para ele que esta satisfeita com seu homem. Ele também casado, faz das palavras dela as dele. Não há em momento algum discurso moral da traição de ambos os lados. Isso por si só já confere ao filme intrigante olha ao analisa-lo sem anacronismos. Na década de 50 o casamento constituía poderosa instituição e adultério seguido de divorcio, entrega a mulher a toda sorte e injuria do destino.
Considerado um dos filmes ícones do movimento nouvelle vague Hiroshima mon amour agrada pelos poderosos diálogos e reflexões da atriz que se recusa a abandonar o passado no qual esta seu verdadeiro amor, mesmo na sensação de estar diante de sentimento semelhante, pois o que resta após é o esquecimento.

O filme foi pioneiro em utilizar o recurso do flashback no qual foi possível conferir a narrativa o dilema do esquecimento do passado que esta espremido entre preste e o futuro.Tecnicamente, fotografia, movimento de câmera nada chama muito atenção, pois para o nouvelle vague a narrativa e diálogos são as prioridades em um longa.

Emmanuelle Riva atua até hoje, seu ultimo trabalho foi o filme de Michael Haneke, Amour de 2012. Marguerite Duras nos deixou em 1996. Okada em 1995 e Alain Resnais em 2014.

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