Por Pachá
Com a premissa de cortejo fúnebre, Fellini povoa o navio Glória N com seus tipos circenses, representando o supra sumo do universo operístico italiano, e claro diante de personagens tão egocêntricos quanto excêntricos, o diretor cria sua teia metalinguística, algo muito presente em suas obras.
Os ilustres passageiros do Glória N vão prestar a última homenagem a Edmea Tetua a grande cantora, admirada por todos ali presente, inclusive o grão duque do império austríaco, uma figura burlesca. Essa espécie de réquiem, que conta com cobertura jornalística televisiva, na figura de Orlando (Freddie Jones), um narrador que protagoniza uma terceira narrativa dentro da trama de La Nave Va deixando claro como Fellini exercitava a metalinguagem.
A fotografia de Giussepe Rotunno é primorosa, e o trabalho de cores salta aos olhos, com texturas, contrastes que lembram as HQs, as quais Fellini era fã, principalmente das americanas, e que muito influenciou em suas obras, e que do ponto de vista artístico é muito mais complexa do que o cineasta. Lembrando que que foi Fellini que inaugurou (criou) o padrão 1:85 com o filme 8 1/2.
Os filmes de Fellini contém uma crítica, ainda que sútil do status quo, mas isso não era suficiente, dado as transformações pós guerra em curso nos 80, no qual o cinema era um poderosa ferramenta de protesto e elevação da consciência. Alguns o acusava de fazer cinema burguês, caso de Giuseppe Di Santi, que também o classificava como aristocrático. O fato é que a narrativa felliniana está calcada na fantasia, do lúdico e simbologia onírica, encerrando neste uma espécie de lamentação ao recriar o passado. Fellini tinha grande admiração pelos palhaços, e acreditava que as mascaras eram necessárias pois o rosto não suporta a verdade, verdade esta que é externada pela narração do jornalista Orlando, já que as mascaras são as convenções sociais nas quais estão preso os passageiros do navio Glória N.
Esse filme, diferente dos anteriores, não tem musica original, que eram compostas por Nino Rota responsável pelas trilhas de todos os filmes de Fellini. Nino Rota faleceu em 1979.
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