sábado, 3 de outubro de 2020

Blade Runner 2049

 

Por Pachá

A continuação do cult movie Blade Runner de 1982 dividiu opiniões, uns acharam a trama conduzida por Villeneuve insossa e com atuações no modo automático, por outro lado há aqueles que acham o filme uma obra prima de ficção do séc. XXI. Villeneuve caiu nas graças dos grandes estúdios por ser um diretor versátil, e basta uma olhada com alguma atenção em sua filmografia para perceber que ele transita com muita facilidade em vários gêneros, do experimental, policial, documental e ficção, e neste ultimo gênero, Arrival é um bom exemplo. E um detalhe muito importante em projetos dessa envergadura, é a gross margin, ou seja, o quanto se gastou e quanto se arrecadou com o filme, e Arrival custou por volta de 47 milhões de USD, e só nos Estados Unidos arrecadou mais de 100 milhões e somando com a bilheteria total, o filme arrecadou mais de 200 milhões. E isso faz a alegria de qualquer estúdio.

Blade Runner 2049 chegou as telas com 2h44min de duração, tanto o produtor executivo, Ridely Scott como diretor, Villeneuve dizem que o ritmo e duração são os fatores para a bilheteria decepcionante, Ridley disse que o filme poderia ter 30min a menos. Em minha percepção esses fatores não fere a trama, e sim as atuações, não que sejam ruins, mas também não tem a mesma empatia do filme de 1982 quando comparamos cada personagem. Ryan Gosling convence como um "pele falsa" até demais, porém é difícil criar qualquer empatia pelo personagem, cujo roteiro deixa claro que qualquer emoção deve ser repelida, quase nos levando a crer que há certo orgulho ou resignação em ser um replicante, e creio que esse é o único vestígio da máxima, "more human than human". Os antagonistas, centradas na figura de Luv (Sylvia Hoeks) que mais parece uma versão atualizada de T-X (a exterminatrix vivida por Kristina Loken) e Wallace (Jared Leto, inicialmente o papel era de David Bowie mas esse faleceu antes das filmagens) que mais parece um gângster do que um empresário criador de "anjos", e que fica muito distante de seu antecessor, Tyrrel vivido por Joe Turkel. A cena em que vemos o "nascimento de um anjo" e posteriormente tem seu ventre aberto por Wallace com um bisturi, dá mostra da forçação de barra para criar um super vilão. E como se isso não bastasse ainda colocam a fala, "você não sabe o que é dor Deckard, fora da Terra eu lhe mostrarei". E ambos, Luv e Wallace estão bem abaixo de Roy Batty vivido por Rutger Hauer.  A trama na qual o único objetivo é encontrar o milagre, uma criança concebida por uma replicante, Rachel (Sean Young), o falcão maltês mas com poucas camadas e eventos poucos criativos com uma cortina de fumaça para escamotear esse objetivo, e tímidas cenas de ação amplifica ainda mais a sensação de falta de ritmo e duração dilatada.


Segundo o IMDB Ridley Scott seria o diretor, mas o cronograma conflitava com Alien:  Convenant e há rumores de que Christopher Nolan foi cotado para dirigir Blade Runner 2049. 

Blade Runner 2049 não é um filme ruim, tem uma fotografia exuberante com composições e enquadramentos com esmero técnico de Roger Deakins, um trabalho de arte e design de produção igualmente poderoso, muito embora não há muitas cenas de ruas e bares, etc. como há no filme de 1982. Possui uma trama bem encadeada, bem ao estilo policial clássico, que agrada ao publico blockbusters mas que para o público mais atento e fãs do filme de 1982, se torna um filme quase bom. E Villeneuve sabia, e falou em entrevista, que estava ciente da pressão que se instalaria em seus ombros para tocar esse projeto. Primeiro pela presença de Ridley Scott no set e depois dos fãs do filme de 1982. 

O roteiro parte do final aberto do filme de 1982, cuja as perguntas eram; o que seria dos replicantes e do próprio protagonista, Deckard? O tal blackout que é citado pelo arquivologista quando K vai buscar informação de Rachel deixa tudo ainda mais intrigante e incógnito, mas essas e outras questões se tornam secundárias quando a questão gritante é, ser ou não filho de alguém, ou seja, ser um ser nascido e não fabricado, e a fala de K quando diz para Joshi (Robin Wright) "eu nunca aposentei nada nascido" deixa claro o conflito que move a trama, a humanização dos replicantes a partir do fato que Rachel uma replicante ter concebido o milagre, dado a luz a uma criança e também por ter recebido o cerimonial de enterro, o mais antigo tratamento que confere aos humanos a condição de humano em seu dilema diante da finitude, a morte. 

Minha percepção final foi que blade runner 2049 dialoga com um público atual, que necessariamente não precisa conhecer o universo do filme de 1982, e para quem conhece desfruta melhor as questões filosóficas ainda que diante de cenas que se estendem com pouco ou nenhum arco dramático, personagens pouco carismáticos em um filme essencialmente de detetive, neo noir que assim como primeiro foi pouco rentável no que diz respeito a sucesso de bilheteria e logo adiante alçado a filme cult, resta saber se o mesmo acontecerá com 2049, vamos esperar e ver como ele envelhece ou se será "aposentado".


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