quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Dogs don't wear Pants

Por Pachá

Alguns tentam o espiritismo, a magia, a metafísica, a tábua ouija para entrar em contato com os mortos, mas bom mesmo é quando há conexões sensoriais completas. As vezes o melhor remédio para um trauma é desenvolver conexões entre dor e prazer. Juha (Pekka Strang) é um médico cirurgião que perdeu a esposa quando a filha (Ilona Huhta)  ainda era uma criança. Acompanhando sua filha para a colocação de um piercing Juha descobre a dominatrix Mona (Krista Kosonen) e o que era apenas uma curiosidade se transforma em uma obsessão, e entre dominadora e dominado se desenvolve estranha e forte conexão que não pode ser negligenciada.

Com misto de humor negro e desgraça iminente, Juha coloca além de sua carreira, a própria vida em risco para ter alguns segundos, minutos de encontro com sua esposa em sessões de sadomasoquismo que tem seu clímax na sufocação de Juha na qual ele tem uma experiência no limiar da morte, e assim consegue encontrar sua mulher, que morreu afogada e numa tentativa de salva-la, Juha também quase morreu afogado. A trama é bem simples, e é calcada no estranhamento de como o protagonista vai ou não romper esse trauma, perda da esposa, e estabelecer uma relação com Mona que igualmente parece sofrer de algum esvaziamento de vida ou falta desta, que é sugerida na dupla vida que Mona leva. 


As atuações são marcadas pela frieza das interações, entre pai e filha, médico e colega e relação entre cão e dona, na qual a primeira lição é, cães não usam calças mas que logo é quebrada, quase que de forma insólita quando a dominada parece desejar o contato com o dominado. Essas e outras passagens permeia o filme de antagonismos e dubiedades. A própria morte da esposa carrega dúvida, foi um acidente ou suicídio, eu fiquei com essa dúvida, mas ainda sim essa frieza, essa possível indiferenças e troca mútuas de favores, favorece o clima de estranhamento da trama.

Os diálogos são escassos, pouco entrega ou explica, o que carrega ainda mais de significado as imagens em cenários frios quando externos contrastando com o underground que Juha passa a frequentar para se aproximar de Mona. O roteiro é dúbio quanto aos objetivos do protagonista, a principio nos leva a acreditar que se trata de uma forma não muito ortodoxa de vencer uma perda mas também nos faz acreditar em uma paixão igualmente pouco ortodoxa, mas seja qual for a interpretação as imagens e conflitos que cercam os personagens torna o filme muito interessante e imprevisível e com um desfecho inusitado.



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