Por Pachá
O primeiro longa da diretora sul coreana Bora Kim é de uma sensibilidade e perspicácia comovente. A história é amparada no drama juvenil de Eu-heen (Ji-hu park) cuja transição da fase adolescente para adulta é repleta de incertezas, decepções e amarguras que pode ser sintetizada em frase que ela, Eu-heen faz a sua professora de chinês, "quando minha vida vai começar a brilhar". E de fato a vida de Eu-heen a caçula de uma família cuja as atenções estão voltadas para o primogênito, não é nada fácil, na escola sofre buyling, em casa sofre com a indiferença de uma família pouco ou nada afetuosa imersa no self made man, o ser vencedor e com as surras do irmão mais velho. A partir da percepção da jovem Eu-heen, Bora Kim escancara a estrutura patriarcal familiar em que é permitido aos homens castigar as mulheres por motivos banias e isso não é exclusividade de Eu-heen, sua melhor amiga sofre do mesma sina, com os castigos frequentes de seu irmão mais velho.
A empatia com a qual a diretora aborda as mudanças que estão acontecendo com a frágil, mas resiliente, contida mas rebelde Eu-heen é digna da passagem da música de Bowie, Changes,
" As crianças em quem vocês cospem, enquanto elas tentam mudar o mundo delas. São imunes aos seus conselhos. Elas sabem muito bem pelo que estão passando…”
O drama que dispensa o melodrama do gênero é ancorado na máxima de que quando viemos ao mundo, já o encontramos pronto, cultura, dicotomias, tradições são absorvidos e internalizados para compor o individuo adulto. E as conexões elaboradas, trabalhadas consciente ou inconscientemente não pode fugir ao ser social e o meio coletivo, famílias amigos, tutores etc e de como respondemos as esses estímulos para escapar de infortúnios maiores. E nesse sentido o roteiro que também é de Bora Kim é muito delicado quando deixa claro que não pode haver conquistas sem lutas, e é isso que a professora Yong-ji (See Byeok Kim) deixa como maior lição para Eu-heen, "não importa como lhe batam, faço o que for preciso para revidar, e não apenas aguentar."
É muito explicito também o contraponto entre os dramas juvenil de uma geração, anos 90, com as mudanças sócios econômicas que estão em curso de uma coréia que experimenta o gosto pelo globalização e crescente mercado consumidor. As cenas detalhes de marcas famosas como Levis e a desapropriação de famílias para especulação imobiliária são sutis, mas com forte poder simbólico desse encontro entre as tradições e os avanços liberais que estão moldando as futuras gerações.
E como é de se esperar em filmes sul coreanos, a fotografia é muito bem trabalhada, com composições delicadas e sutis para captar a percepção de Eu-heen e o mundo a sua volta que parece desabar a cada tentativa de fuga imediata de uma rotina opressora e desesperançosa.
House of Hummingbird é considerado um dos mais competentes filmes de estréia de uma diretora(o).
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