sexta-feira, 6 de abril de 2012

Ágora - Alexandria

Por Pachá
A grandiosidade do filme Ágora, no Brasil com titulo Alexandria, não fica só nos cenários, há atenção para fatos históricos. O filme explora fase de transição do cristianismo, de religião proibida a religião oficial do império Romano. O recorte que o diretor Alejandro Amenabar faz é interessante, sec. IV d.C. O contexto político econômico era de instabilidade, o império Romano vinha de séria crise do sec. III, o império não se expandia, e com isso importantes fontes de riquezas, pilhagem, butim e escravos diminuem consideravelmente, para agravar a produção de viveres sofria com forte competição com produção do oriente. O imperador Constantino vinha tentando manter as reformas iniciado no governo de Deocleciano, mas o legado mais expressivo de Constantino foi o de ter posto fim a perseguição dos Cristãos através do Edito de Milão.

A partir do Sec. IV inicia transição da antiguidade para idade média. O imperador Theodosio cristão fervoroso declara o cristianismo religião oficial do império. Partindo desta premissa Amenábar nos leva à Alexandria o centro do conhecimento acumulado da antiguidade, lá ensina filosofia e astronomia a sábia Hipátia (Ipásia) vivida por Rachel Weisz. A partir da percepção de Hepátia e seu escravo Davus (Max Minghellaque), vemos a expansão do Cristianismo. Embora Amenábar tente manter visão imparcial, sem fazer juízo de valor, sutilmente fica o que se ler nos livros de História, que o Cristianismo é uma religião intolerante. A cena em que os parabolanos insultam os deuses pagãos dos Romanos fica evidente por outro lado os cristãos se sentem ofendidos quando os judeus desacatam os mandamentos das escrituras, de ter o sábado para orar ao invés de ir ao teatro assistir espetáculos mundanos e cometer pecado da gula ao se esbaldar em doces e guloseimas. A destruição da biblioteca de Alexandria e perseguição aos judeus são prova cabal dessa intolerância.

O conflito principal do filme é: Como individuo engajado na ciência, imbuído de entender e explicar o mundo ao seu redor pode se comprometer com a fé, se sua principal ferramenta é o questionamento? Esse é o dilema de Hipátia que se vê obrigada aceitar a fé cristã e seus mandamentos, e para tanto abandonar sua visão investigativa da natureza, ou sofrer perseguição e apedrejamento, prática corriqueira para os parabolanos. 


As interpretações estão corretas e criam convincente atmosfera de jogo de poder, entre as ciências do saber, cristianismo e judeus. Rachel Weisz como protagonista, dá grande profundidade ao personagem de Hipátia que dedica todo seu amor as ciências e se consome na explicação dos movimentos planetários, naquela época ainda não se sabia do movimento elíptico do nosso sistema solar.


Amenabar cria ótimo filme com olhar sério mesmo que não caiba olhares historiográficos, porém essa não é a função do cinema, quando muito aproxima da realidade e nunca tem compromisso em provar nada a não ser seu caráter de diversão.

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