sexta-feira, 26 de junho de 2020

Bleeder

Por Pachá

O segundo filme de Winding Refn confirma sua preferência por narrativas na qual a natureza humana é desnudada. Em Bleeder ele aborda o cotidiano de amigos, que tentam construir ou manter relações e os consequentes lastros para suportar o oficio de viver.

Lenny (Mads Mikkelsen) trabalha em uma locadora de filmes, assistir a filmes e falar sobre filmes é seu único assunto, o que dificulta seu approach em Lea (Liv Corfixen). Leo (Kim Bodnia) vive com Louise (Rikke Louise Andersson) que está esperando um filho, e após vários abortos, ela decide que terá essa criança, e essa gravidez mexe como os nervos de Leo, um sujeito frágil emocionalmente. Nesse universo ainda orbitam, Louis (Levino Jensen) irmão de Louise. 


O diretor dinamarquês explora a banalidade do cotidiano em um país que não esconde a xenofobia e racismo, há pelo menos duas cenas com esse teor. Leo ao presenciar uma cena de tiro em uma boate, decide que precisa de uma arma, e como cantava Bezerra, o sujeito com uma arma na mão é um bicho feroz.

Os personagens parecem desprovidos de ambições ou mesmo maiores expectativas perante a vida, uma sensação que permeava os anos 80, e creio que a grande referência é Perdidos no Paraíso 1983, de Jim Jarmusch. O enfrentamento de relações e respectivos compromissos, sejam elas a longo prazo ou um inicio de namoro, é um grande desafio para os personagens, Lenny é inseguro, quer convidar Lea para uma sessão de cinema, mas não sabe como iniciar uma conversa, e as tentativas de xaveco com Lea rendem boas passagens, nas quais Mads Mikkelsen e Liv Corfixen fazem uma boa dupla. Kim Bodnia como um sociopata em transição para psicopatia é o grande arco dramático da trama, já que os demais personagens são rasos.

Não se trata aqui de algo visceral ou mesmo com grandes propriedades, mas o filme é bem filmado, com uma montagem que dá um bom ritmo e movimento de câmeras em nítido esforço para sair do lugar comum, e em minha percepção funciona.





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