sábado, 27 de junho de 2020

Era uma vez, Eu Verônica

Por Pachá

Crises existenciais ou esvaziamento do sentido da vida que tem como escapismos adornos amparados em peripécias sexuais há tempos alcançou o lugar comum no cinema. E desde o lançamento, em 2001 do relato em livro, da Vida Sexual de Catharine M, que isso ficou ainda mais explícito, ou seja, uma banalização do sexo, quando este virou hobby, esporte, passa tempo. Llosa escreve que talvez em nenhuma outra atividade tenha sido estabelecido uma fronteira tão evidente entre animal e a espécie humana como no domínio do sexo...bem, mas isso é uma outra análise.

Verônica (Hermila Guedes) é uma recém formada médica que não está muito segura do rumo que escolheu para sua vida, quando em sua autoanálise, feita por meio de conversas com um gravador, ela se questiona como pode cuidar do bem estar das pessoas se não consegue dar conta de suas próprias feridas...Eu tenho coração de pedra, diz ela. E nisso há certas justificativas, em minha percepção, descuidada do roteiro, creio que até pelo cuidado em erotizar e não cair em banalidade, mas acaba incorrendo nesse sentido, com diálogos que levam justamente no caminho do sexo banal quando Veronica fala ao gravador, Hoje fiz sexo gostoso, ou melhor eu penso que fiz um sexo gostoso...Você esta ao meu lado, mas eu não estou ao seu lado



Fiquei com a impressão de que sobrou realidade e faltou ficção na trajetória de Verônica, e como resultado uma história comum e flat, na qual o único gesto de revolta é transar sem se envolver, e deixar isso claro é o ápice dessa subversão, e isso já está desgastado, tanto quanto a música tribalista, eu sou de ninguém que não se encaixa na trilha de Karina Buhr, quando canta, está tudo padronizado.

A atuação de Hermila não é das melhores, quando se tem no radar Céu de Suely, mas acho que isso em parte é devido a estrutura narrativa. A participação de João Miguel é bem discreta. A fotografia de Mauro Pinheiro é bem trabalhada, como de costume, com enquadramentos bem pensados, iluminação equilibrada (sombras e claros) nos diversos ambientes, e são muitos, deixando as imagens bonitas. E fortalece ainda mais a parceria com Marcelo Gomes que inicio em Cinema, Aspirina e Urubus. 

Era uma vez, eu Verônica derrapa pela carência de conflitos mais trabalhados, mas ainda sim é um bom filme.

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