sábado, 11 de junho de 2022

Natimorto

Por Pachá

A negação da existência é, talvez, a maior vingança contra vida e essa ode a morte ainda em vida é o que move o agente musical (Lourenço Mutarelli) que se encanta pela jovem promessa da musica, Simone Spoladore.

A trama mistura tarô com as funestas mensagens, "o ministério da saúde adverte" que vem estampadas nos maços de cigarro no qual o roteiro trabalha os subjetivos conceitos de azar e sorte. O primeiro ato cria interessante perspectiva de uma relação nada convencional, baseado no estranhamento, mas que nos atos seguintes ganha estrutura mais teatral com diálogos forçados.

O filme que estreou no festival do Rio de 2009 é uma aposta do cinema não realista que foge ao gênero dominante do período, o favela movie. A aposta de Machline é explorar os males modernos, ansiedade, fracasso, sexualidade e todo tipo de fobia que assombra os sapiens das grandes metrópoles.


As atuações são muito bem conduzidas, Spoladore em minha percepção é a cara do cinema independente nacional, com uma uma mistura de sensualidade, expressões faciais e gestos magnéticos que cativa e aprisiona o olhar. Mutarelli incorpora seus personagens das graphic novel que tanto o consagrou como, Transubstanciação e o Rei do Ponto. Betty Gofman ainda que possua poucas cenas, tem grande presença, esbanjando talento e versatilidade com a esposa desconfiada e cética, ela é o contraponto realista da trajetória surrealista do agente.

Ainda que as expectativas criadas no primeiro ato não se realizem, e a trama fique estacionada, tal qual os protagonistas, Natimorto tem boas passagens, com boas atuações e vale o esforço para assisti-lo.



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