domingo, 9 de setembro de 2012

O Mito de Sísifo

Por Pachá
Camus foi um sujeito que desde cedo percebeu a realidade do mundo em que vivia. Da miséria da infância no céu feliz de Argel no bairro de Belcourt, extraiu valores que o ajudaram a exteriorizar o grande absurdo que é viver. Alguns estudiosos de sua obra como René Char disse certa vez que "aquele que vem ao mundo para nada modificar, não merece respeito e paciência

Embora Camus tenha negado rotulo de filosofo existencialista, chegando até a dizer que Le Mythe de Sisiph, seu único livro de idéias é justamente um livro contra os filósofos existencialistas. A despeito de ser ou não existencialista, sua obra está imersa da condição humana onde a existência precede a natureza. Em Mito de Sisifo Camus ancora sua percepção da realidade no absurdo e revolta. O absurdo por definição é algo que não poderia acontecer, é o embate da busca do indivíduo pela racional clareza com irracionalidade do mundo, e nesse sentido a obra de Camus tem profundo caráter histórico uma vez que seu pensamento é fruto de uma realidade marcada por uma das maiores irracionalidade do homem, a guerra, na qual Argélia foi palco de disputas na corrida imperialista do final do séc. XIX - XX. E a revolta é nas palavras de Camus "a busca do individuo pelo aperfeiçoamento, ainda que cego"

Na mitologia grega Sísifo é um personagem que carrega astucia e rebeldia diante dos desígnios divinos, também uma metáfora ao mundo complexo, industrializado imerso na futilidade do ter, na repetitividade do ser . Ao se rebelar ou por prender a morte (Tânato), conjurando a ira de Plutão senhor das trevas gregas, ou por se apossar dos segredos dos deus, seja qual for sua revolta Sísifo foi condenado a um trabalho repetitivo, empurrar grande pedra morro acima, esta rola para baixo e Sísifo deve traze-la em vão para cima, sabendo que ela rolará novamente para baixo, num trabalho ad eterno. E dessa metáfora Camus alicerça seu pensamento em Mito de Sísfio da revolta a consciência, pois a despeito do quão sucedido podemos ser, falharemos pois morreremos ao final, não possuímos poderes divinos. Embora aos deuses gregos tal trabalho seja um castigo, para Camus há apenas a essência da existência, Sísifo no pensamento de Camus é feliz pois da irracionalidade e absurdo nasce o sentimento de felicidade.

Trecho...
“Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim, sem dono, não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra, cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz."





Nenhum comentário:

Postar um comentário