O ano é 1758, as potências ultramarinas Portugal e Espanha lutam, ainda que no campo da diplomacia, pelos domínios da América. Entre os dois governos está a igreja em especial a ordem dos jesuítas que lutava pela não escravidão do gentio. Acontece que as missões jesuítas começaram a competir com os empreendimentos dos colonos, que tinham no apresamento do índio mão-de-obra barata e abundante, sobretudo dos guaranis, tribo de farta população, fácil cristianização e pacifica oferecendo pouco ou nenhuma resistência a escravidão. Essa competição com a igreja não era interessante para coroa que computava perdas, uma vez que os ganhos nas missões era propriedade da igreja.
Roland Joffé retrata bem o drama dos gentios ao narrar historia do Capitão Rodrigo Mendoza (Robert de Niro) um negociador de escravos e exímio raptor de índios. Ao saber que sua noiva está apaixonada pelo seu irmão Felipe (Aidam Quinn) grande desapontamento recai sobre seu humor, em duelo com irmão acaba por mata-lo. Com remorso decide não mais falar ou comer, decidindo por morrer na prisão embora a lei não possa puni-lo, pois o homicídio foi em duelo. Para resgata-lo é chamado o padre jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) que acaba por convence-lo a aceitar Deus e o leva para nova missão que está fundando além das grandes cachoeiras, São Carlos.
O filme é narrado pelo enviado da santa igreja, Altamirano (Ray McAnally) que vai decidir o futuro não dos índios, e sim da ordem dos Jesuítas preste a ser banida de Portugal e Espanha. E o filme abre com ele ditando uma carta a um escriba.
"...os índios estão novamente livres para serem escravizados por espanhóis e portugueses"
Embora tratado de forma sutil, Joffé pontua bem a relação de poder entre Espanha e Portugal, da qual para questão dos índios ambas tinham planos diversos. Em dado momento Altamirano cita a influencia do Marques de Pombal (José de Carvalho de Melo) e de como este era inimigo da igreja. Pombal que havia assumido cargo de secretario de Estado no reinado de D. José I em 1755 vinha promovendo planos estruturais para tirar Portugal da dependeria da Inglaterra e os índios estava nesses planos, não como fator comercial diretamente, e sim social, dado que ele queria os índios livres para poderem casar com colonos e formar o povo dos brasis e com isso garantir povoamento e segurança das colônias portuguesas que a esta altura vinham sendo ameaçados por outras potências colonizadoras como francesas, holandesas e espanholas. E também porque não só Portugal como outros reinos estavam tentando frear alargamento do poder da igreja, tanto no âmbito ideológico e principalmente no acumulo de capital
Na tribo em convívio com os índios, Mendoza é aceito como monge jesuíta e obediente a palavra de Deus. Mas como diz o ditado, se desejas a paz prepara-te para guerra, e lutar é algo que corre nas veias de Mendoza que vê na decisão da santidade, de acabar com as missões um motivo pra voltar a empunhar espada. Ele e alguns padres decidem por ficar na missão e lutar ao lado dos índios contra os portugueses. O padre Gabriel que não acredita no emprego da força, pois do contrário não há espaço para o amor, e Deus é amor. Não abençoa a decisão de seus discípulos, tão pouco desaprova e também decide fica ao lado dos índios em orações, mesmo sabendo que será excomungado pela igreja.
Joffé fez um filme belíssimo, com fotografia magistral do pedacinho do Éden como bem diz o padre Gabriel sobre a missão de São Carlos. As atuações que conta com elenco de primeira grandeza, de Niro em ótima fase, Irons se firmando como estrela de grandes produções e outros que vieram a se tornar grande, como Liam Neeson no papel do padre Fielding. Outro ponto que chama atenção é a quantidade de figurantes indígenas, de fato há mais atores indígenas do que ocidentais em cena.
Dado a grandiosidade da obra o filme foi indicado a 8 Ocars, ganhando melhor fotografia e principalmente foi o grande vencedor da palma de ouro em Cannes.
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