Por Pachá
O ditado de que ódio e amor possui tênues limites é explorado com maestria no filme de Videau. Vincent (Reda Kateb) é para seus colegas de trabalho um sujeito estranho. Solitário ele vai ao limite para aplacar seu isolamento com o mundo ao sequestrar a pequena Gaëlle (Aghate Bonitzer). Em vai e voltas nas lembranças de Gaëlle, bem montado pelo roteiro aos pouco a historia de Vincent e Agathe é desenrolada.
Após 8 anos de sequestro os dois desenvolvem estranha relação de dependência, ela por necessidade de vida, pois enquanto ele sai pro trabalho ela fica enclausurada em porão, saindo quando ele retorna a noite. O terror de saber que se Vincent morrer ou acontecer qualquer coisa com ele, é para ela espécie de sentença de morte, já que até descobrirem-na no porão estará morta. "seja lá o que aconteça com você não fique no meio do caminho, entre a morte e a vida" essas reflexões preenchem o pequeno porão de Gaëlle. Que tem nos livros, e são muitos que a guria lê, seu único contato com o mundo externo, bem como acessos controlados a internet por Vincent, que pouco representa desse mundo exterior já que sua interação social é pífia. Não suportando mais, Vincent decide liberta-la.
O filme se ampara em três linhas narrativas, Gaëlle como refém, como paciente na clinica para reintegração social onde regressa aos anos de clausura, e o reencontro com sua mãe e pai, esse um pequeno momento pouco desenvolvido pelo roteiro, mas que atua como peça importante do quebra cabeça no qual Gaëlle vai montar sua identidade. Embora o filme tenha a preocupação de afirmar que a historia é uma ficção, é fácil relação com o caso da jovem austríaca Natasch Kampusch, mantida em cativeiro pelo próprio pai.
A questão principal, e o roteiro é explicito quanto a isso (a própria sinopse entrega a problemática), é o pós trauma, como uma criança retirada do convívio dos pais, criado por um adulto e longe do mundo social se readapta a sociedade após oito anos de cativeiro? O filme é inteligente ao fugir da síndrome de estocolmo, muito bem delineado em dialogo entre vitima e algoz. Ela já na casa dos 17 anos propõe fazer amor com ele, que se zanga pois não é estuprador. Ela responde com mordaz inteligência, que se ele espera que isso aconteça quando ela estiver apaixonada, que ele pode esquecer, pois tal sentimento nunca acontecerá. Os papeis de seqüestrada e seqüestrador estão bem representados, Kateb convence no papel de sujeito que abandonou o convívio social e tenta criar mundo particular. Agathe mostra segurança no desenvolvimento da personagem, resignada pois seja qual for seu destino, haverá grande abismo entre ela e a sociedade.
Um bom e interessante filme que vale se descoberto pelo grande publico apreciador de dramas fortes. E como diz o francês, n'est pas un film à l'eau de rose (garapa).
Um bom e interessante filme que vale se descoberto pelo grande publico apreciador de dramas fortes. E como diz o francês, n'est pas un film à l'eau de rose (garapa).
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