Por Pachá
O filme de Nikolaj Arcel é um bom retrato (ainda que pano de fundo) do processo de secularização de uma sociedade, no caso a Dinamarca. Ancorado em fatos históricos quando em 1759 a princesa Caroline Matilde, então com 15 anos, se casa com Rei Dinamarquês Christian VII, um sujeito excêntrico e por demais infantlizado e juntamente com médico da corte plantaram idéias que moldaram a Dinamarca ao longo do séc. XVIII. O período em questão era efervescente em toda Europa que sentia os ventos da mudança na nova corrente de pensamento, o Iluminismo. Até então o mundo (europeu ocidental) era dominando pelo realismo aristotélico-tomista onde o conhecimento era centrado no mundo metafísico das essências. Ainda no séc, XVII Descartes, Locke, Spinoza para citar alguns haviam desencadeado nova ordem na inflexão de pensamentos, abrindo largas vias para o empirismo e o normalismo. Vale ressaltar que a filosofia natural (física e matemática) de Galileu, Descartes e Newton puseram "ordem" no universo, constatando através da observação regularidade dos fenômenos, que através de métodos adequados (mais tarde método científicos) chegariam a essa ordem natural. Esta nova visão do mundo, pelas lentes da ciência são o pressuposto para o Iluminismo no séc. XVIII onde prevalecia a imanência do ser, ou seja, toda qualquer explicação de fenômenos não mais era procurando no divino e sim no EU, físico e terreno. A Razão devia prevalecer sobre o divino.
Caroline que nos documentos históricos não é apontada como bela, e sim de personalidade forte, inteligente e que de alguma forma atraia atenção dos homens, contrasta com beleza da atriz Alicia Vikander, de olhar meigo, tristonho até, mas que imprime grande força ao personagem, muito embora não percebemos a tal personalidade marcante nas nítidas cenas em que há o esforço para tal. Mas acabam encantando justamente pelo oposto, ar resignado, tédio e deslocamento que comungam com olhar e expressão de Vikander. Após cumprido suas obrigações de rainha, ou seja, gerado um rebento para o trono, já que a Dinamarca é uma das monarquias mais antiga do mundo. Nascido Frederik VI, Caroline não vê motivo para ter o Rei em sua cama. Seu casamento como tantos no antigo regime, nada tinha a ver com sentimentos, e sim político-econômico e analisar insatisfação de Caroline por essa ótica é anacronismo.
Porém com chegada a corte do médico Johann Struensee (Mads Mikkelsen) como médico particular do Rei vai mudar vida de Caroline e de um pais. Johann é um médico do povo profundamente imbuído das idéias iluministas que via na propriedade da terra e vassalagem (sistema feudal), e a fé cega na religião, entraves para avanço da Dinamarca enquanto reino prospero a exemplo da Inglaterra e França que estavam há muito em processo de cisão com antigo regime. Ele ganha notoriedade quando salva o pequeno Frederik VI da varíola, e ao que responde quando é creditado a Deus a cura do bebê, [...] Deus não teve nada a ver com isso... afirmando um dos princípios caros ao Iluminismo, de que a razão deve ser o único critério válido de acordo com a própria vontade divina.
Caroline não tarda a encontrar em Johann o que lhe falta no casamento, livros, arte. A cena em que Caroline encontra livro de Rousseau escondido na estante de Johann é o iniciou da secreta paixão. E passa a recebe-lo em seu quarto as escondidas. Com as melhores intenções, e delas o caminho para o inferno está pavimentado, Caroline e Johann passam a exercer forte influencia em Christian com intuito de por em prática idéias liberais do iluminismo em forma de lei e decretos para tirar a Dinamarca do sistema feudal. A nobreza e o clero, não viram nessas boas intenções nada benefico quando estava em jogo o poder da igreja e as terras dos nobres. A Dinamarca que é luterana desde o séc. XVI, estava tentando se erguer de sucessivas guerras civis ao longo do séc. XVII após adotar a igreja luterana como religião oficial. O auge do poder do triângulo "amoroso" se dá com a dissolução do conselho, e um novo gabinete para assuntos do pais presidindo pelo rei e Johann.
Caroline não tarda a encontrar em Johann o que lhe falta no casamento, livros, arte. A cena em que Caroline encontra livro de Rousseau escondido na estante de Johann é o iniciou da secreta paixão. E passa a recebe-lo em seu quarto as escondidas. Com as melhores intenções, e delas o caminho para o inferno está pavimentado, Caroline e Johann passam a exercer forte influencia em Christian com intuito de por em prática idéias liberais do iluminismo em forma de lei e decretos para tirar a Dinamarca do sistema feudal. A nobreza e o clero, não viram nessas boas intenções nada benefico quando estava em jogo o poder da igreja e as terras dos nobres. A Dinamarca que é luterana desde o séc. XVI, estava tentando se erguer de sucessivas guerras civis ao longo do séc. XVII após adotar a igreja luterana como religião oficial. O auge do poder do triângulo "amoroso" se dá com a dissolução do conselho, e um novo gabinete para assuntos do pais presidindo pelo rei e Johann.
O filme encanta pela historia em si e mesmo porque o romance histórico que permeia o filme nada tem de meloso ou hollywoodiano, e nesse ponto há grande mérito de Arcel que já havia dado mostra do grande roteirista que é em O homem que não amava as mulheres (sueco), e com Amante da rainha mostra, ao adaptar obra "Princesa de Sangue" de Bodil Steensen-Leth, que também sabe conduzir historias. As atuações são mais que corretas, Alicia Vikander como descrito linhas acima, carismática e legante. Mads como sempre esbanjando versatilidade e emoção em suas interpretações, mesmo que as vezes pareça apático e no automático, mas tenho grande admiração por esse ator. O mesmo vale para Mikkel Boe como o louco rei Christian VII que é a grande interpretação do longa. Os demais atores preenchem a trama corretamente.
Tecnicamente o filme é bem fotografado, embora algumas cenas diurnas me pareceu muito claras em luz chapada, com pouco contraste. Mas compensado nas internas, onde há grande imersão no universo da nobreza e seus rituais, mesmo que comandado por um rei louco. Por outro lado peca ao mostrar pouco ou nada das ruas e povo da Dinamarca absolutista, ficando o discurso apenas por parte dos nobres. Mas ai acho que se trata budget que certamente não foi dos maiores. Mas que não fere beleza do filme.
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