Fernando Trueba é um dos mais famosos diretores espanhóis, tendo filmado em quase todos os continentes. El Baile de Victoria de 2009 inteiramente rodado no Chile narra três historias que se cruzam. Um especialista em abrir cofres Nicolás Vergara Grey (Ricardo Darin) em fim de carreira e recém saído da prisão, após 5 anos de reclusão, com intuito único de recomeçar a vida com a esposa e filho, e nesse podemos apontar lugar comum em filmes do gênero. O jovem Àngel Santiago (Abel Ayala) igualmente recém saído da prisão. E uma dançarina muda Victoria (Miranda Bodenhofer). Nos três caminhos que se cruzam há convergência de imperativa necessidade e anseio por recomeçar vida.
O filme é baseado no livro do escritor chileno Antonio Skármeta que além de participação como critico de balé, também assina roteiro junto com Jonás Trueba, filho de Fernando. E se sobra previsibilidade, o filme consegue manter certo equilíbrio entre a tragédia e cômico no estilo romântico sonhador de Àngel, o sujeito mais parece personagem de fabula. Victoria se encanta pelo rapaz, ela que perdeu os pais ainda criancinha no regime militar na ditadura de Pinochet e desde então perdeu voz. Mas Àngel tem planos para futuro, que inclui golpe de roubo de dinheiro ilícito acumulado por bajuladores durante ditadura. Para que tudo saia como planejado a participação de Vergara é fundamental. Metade do filme Àngel está tentando convence-lo, a outra metade está solidificando seus sentimentos amorosos junto a não tão ingênua Victoria. Confesso que a cena do cinema logo após ser rejeitada pela academia chilena de balé, me confundiu, pra falar a verdade achei derrapada do roteiro, mas como não li o livro não posso depositar maiores convicções nessa passagem.
Embora o contexto histórico do filme seja menos que um pano de fundo, um véu se muito, é perceptível a preocupação na abordagem da ditadura, que mergulhou ainda mais a América latina nas trevas do subdesenvolvimento. O próprio Trueba em entrevista, os extras do DVD são ótimos, diz que o filme só poderia ser rodado na Argentina ou Chile, justamente pela historia que ambos os países possuem de perseguição e desaparecidos nos períodos de ditadura. Ele também afirma que esse é seu filme mais complexo tecnicamente, dado que seu cinema é de autor, personagem. E em El baile ele se viu filmando em paisagens montanhosas, aves andinas, ângulos novos e os diálogos, o forte de seu cinema, quando acontece é quase algo insólito. Tecnicamente o filme é bem estruturado, com narrativa sincronizada as imagens urbanas chilenas, é só prestar atenção nas cenas em que Àngel e Victoria andam pelo centro do Chile a cavalo. Pode até ser um exagero, mas cria a verossimilhança com o personagem de Àngel (um Percival) muito bem interpretado por Abel, que em nenhum momento é ofuscado pela estrela maior, Darín. Agradável surpresa também fica por conta das interpretações da bailarina chilena de 17 anos, Miranda que mostra convincente dose dramática ao personagem de Victoria. O que denota o olhar certeiro de Trueba, pois quando viu a garota no meio de tantas outras alunas na academia de balé no Chile teve certeza que ela era o personagem.
El baile de la Victoria é um filme que funciona mesmo com toda previsibilidade.
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