Por Pachá
A prostituição na França é ilegal e escassos os bordéis, diferente do Brasil onde a oferta corre solta nas termas e casa de massagens apesar de ser igualmente ilegal. Para contratar as horas das profissionais do entretenimento os franceses recorrem a serviços especializados. E nesse fato consiste a pesquisa da experiente jornalista Anne (Juliette Binoche) que está mergulhada no seu objeto de pesquisa, quebrando uma das regras básicas do método de analise (cientifico) que é o distanciamento do objeto pesquisado. Ao entrar em contato com duas garotas de programas, universitárias, Anne tenta estabelecer vínculos entre estilo de vida e necessidade dessas garotas. Se esse era o intento do roteiro e diretora, creio que falharam em expor tais preocupações, pois não há qualquer conclusão quanto a isso, deixando uma trama vaga perdida entre os problemas caseiros da protagonista. Binoche me pareceu no automático, mera cumpridora de frases.
Como contraponto o cotidiano do objeto de pesquisa, jovens universitárias se prostituindo; Alicja (Joanna Kulig) e Charlotte (Anaïs Demoustier) estão por demais convincentes no papel de garotas de programa. A primeira, imigrante com estrutura familiar capenga, pais separados, longe de casa e sem muitos recursos financeiros, vê na prostituição meio de sustento na cara Paris, ou ao menos é o que roteiro nos leva a entender. A segunda com típica estrutura familiar parisiense porém com austero controle de finanças, tem na prostituição a independência financeira que lhe proporcione padrão de vida que os pais não podem dar. E como ponto bem alinhado na trama, que é motivação e expectativa, é que ambas parecem gostar do que fazem, mesmo nos casos em que clientes extrapolam suas fantasias sexuais, incorrendo em violência. Anne por sua vez se vê abalada enquanto mulher ao se deparar com corpos jovens e viçosos tendo prazer ainda que de forma imoral diante de convenções sociais. O choque de gerações é patente, Anne apegado ao mundo da família ao passo que as jovens ignoram tais laços, vivendo o presente sem qualquer olhar para o passado ou planos para o futuro, o imediatismo característico da geração wi-fi ancorado em felicidade finitas e artificiais.
Embora o filme se perca entre tema principal, jovens se vendendo, e drama da mulher-esposa-mãe-jornalista a diretora consegue atrair atenção do espectador com o dia-a-dia das jovens, com suas confissões picantes em interpretações convincentes, bem fotografado e ritmo narrativo equilibrado entre entrevistada e entrevistadora, que acaba por se aproximar demais de seu objeto de pesquisa a ponto de influenciar seu dia-a-dia. Em minha percepção faltou a direção estabelecer o tema dominante da trama e como esses seriam influenciados com a visão da jornalista. E ai faltou a diretora Malgorzata Szumowska o que sobrou ao filme de Soderbergh, Confissões de uma garota de programa, objetividade em tratar o tema da prostituição sem escamoteá-lo ou mesmo ampara-lo em dramas secundários. Em contexto amplo o filme não é oco tão pouco levanta questões mais aprofundadas sobre o tema. Mas vale ser conferido pelas boas interpretações das garotas de programas.
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