quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Sonho de um Homem Ridículo (Conto)

Por Pachá
O conto de Dostoievski escrito em 1877 não deixa de ser atual, quando o mundo contemporâneo, veloz, wi-fi está pouco ligado nas aflições da alma. Tudo está orientado para felicidade como um bem tangível, compre um carro ultimo modelo da marca da hora e seja feliz. Abra uma conta no banco  moderninho com projetos sociais e seja feliz. A felicidade virou artigo para poucos, como se fosse possível tê-la a qualquer momento, basta sacar um cartão de crédito e voilá, estou feliz! 

Mas há abissal diferença entre ser e estar feliz. Ninguém é feliz o tempo todo. Na maioria das vezes nos esquecemos de nosso mal-estar na busca de momentos felizes, que nos proporcione estar feliz, por frações de segundos, horas, dias até. A sociedade de consumo moldado pelas agencias de propaganda vendem a felicidade em cada anuncio de serviço ou bens. E não é de se entranhar que a civilização do espetáculo como bem definiu Llosa está inundando os divãs mundo a fora. Não que entretenimento não seja necessário, não só é necessário quanto fundamental, mas nem só de espetáculo vive o pobre Homo Sapiens.

O homem ridículo de Dostoiévski vagueia por São Petersburgo com a idéia de que tudo lhe é indiferente, viver ou morrer não faz diferença, para ele tanto faz o mundo existir ou não. O vazio lhe toma as vontades a ponto de plantar a idéia de suicídio. Em casa, numa gaveta, repousa o revolver adquirido para esse fim. A caminho de seu destino o homem se depara com uma garotinha que lhe pede em prantos ajuda, sua mãe provavelmente, segundo o homem ridículo, está definhando, a beira da morte. Ele nega ajuda , não por maldade, e sim pela indiferença que nutre pelo seu semelhante e o mundo. Em casa acomodado em sua poltrona, é devorado pelo sentimento de culpa de não ter ajudado a pobre garotinha. Adormece e num sonho vem as inquietações, reflexões a cerca da vida, morte e principalmente o outro... trate o outro como a si próprio. Diante de sua inutilidade, de saber desde tenra idade de que era ridículo, o homem se depara em seu sonho com um mundo desprovido de vaidade, ambições. Um mundo onde a coletividade alicerçado no outro é a regra, onde o outro não é um estranho nem um inimigo. Um mundo onde não há aniquilamento diante da realidade... 

O conto de Dostoiévski tras a tona de que a construção do sofrimento da sociedade contemporânea, uma sociedade voyeur que pôs em jogo o sentido da vida, a irrealidade donde provem crise de identidade, medos e o mal-estar que nos assombra está fundamentado pelo esquecimento de que um ser humano é tão saudável quanto o é a sociedade em que ele esta inserido.

abaixo animação em aquarelas baseado no conto do escritor russo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário