segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Miss Violence

Por Pachá,
Creio que desde Dente Canino 2009, de Giorgos Lanthimos, o cinema grego vem ganhando holofontes, e já denominado de "estranha onda grega". Miss Violence mantém o tom estranho, absurdo e provocativo, o que vem igualmente sendo apontado como característícas  do cinema contemporâneo grego. Outro ponto a ressaltar nessa "estranha onda grega" são as narrativas, ainda que bizarras, aderentes ao atual cenário do pais, desemprego, arrochos salariais, corte de mordomias institucionalizadas que por vezes é de fácil comparação com as classes dominantes da antiguidade grega, e aguda crise sócio-economica cuja família é a mais afetada pelo descompasso do capitalismo. E também da trágica realidade de famílias desestruturalizadas pela violência doméstica.

Alexandros Avranas traça bizarro olhar sobre uma família que numa analise desprovida de reflexões mais profundas, é apenas mais uma familia a viver na austeridade fruto da falência econômica do pais. Aparentemente, o patriarca (Themis Panou) mantém firme controle da família, leva e busca os netos na escola religiosamente, faz todo planejamento doméstico. Ele cumpri essa agenda com rigor militar. As cores dessaturadas da fotografia de Olympia Mytilianiou ajuda no clima de tragédia anunciada. O longa abre com suicido de uma adolescente em seu aniversário, que parece pouco abalar a família. E, com maestria de roteiro e direção, o drama grego ganha ares de incomodo e curiosidade na rotina da família. A pensão das crianças, a figura paterna que raramente é mencionado, o pacto de silêncio entre as mulheres. Cada pequeno detalhe do desenrolar da trama é cuidado com esmero por Avranas que comanda a narrativa de forma sutil, com intuito de envolver  o telespectador no amaranhado de acontecimentos liberados a cota gotas, para em seguida se transformar numa troba d'agua de incomodo e mal estar,

O longa foi premiado no festival Veneza de 2013 com melhor direção e ator, Themis Panou que na verdade é ator de teatro.


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