sábado, 8 de agosto de 2020

Planeta Fantástico

Por Pachá

O cinema de animação europeu tem total hegemonia das produções francesas, e fica atrás apenas de USA e Japão. O sucesso não só, em quantidade mas em qualidade das animações francesas, se dá pelas escolas como Goblins, Rubika, Mac Guff, este ultimo um estúdio de efeitos digitais.

Planeta fantástico é uma ficção cientifica de 1973 realizada em conjunto pela França e Tchecoslóváquia, ambientada no planeta Yagam na qual uma raça de alienígenas, Draggs tem como pets, bichos de estimação, humanóides, denominados Oms.

Em 1968 países aliados do pacto de Varsóvia, liderados pela Russia invadem a Tchecoslováquia. Essa invasão ficou conhecida como operação Danúbio. A animação de Laloux (1929 - 2004), pega esse fato histórico para criar suas metáforas surrealista sobre essa ocupação. Isso não é muito explicito, e eu só soube dessa conexão nos extras do DVD.

A relação entre Draggs e Oms bem mais lembra a cosmologia grega, no qual os Titãs que dominavam Gaia, são derrotados pelas suas criações, que vieram e se tornar os deuses mitológicos. Na trama de Planeta Fantástico há uma nítida relação, entre Prometeus que desafia Zeus ao levar a sabedoria aos mortais. O oms Terr ao aprender o idioma dos Draggs, acaba por se revoltar e foge para se juntar a outros Oms, que são denominados uma praga, tal qual ratos, se reproduzem rápidos e são autodestrutivos. Ao difundir o conhecimento para os Oms estes passam a utilizar a tecnologia Dragg para fugir do planeta Yagam, mas no processo de liberdade e fuga, há também um rastro de destruição, lembrando como se deu o domínio da espécie humana sobre as demais espécies e também a relação com o planeta que habita.
O estilo da animação é bem característica dos anos 70, com muitas cores e tons psicodélicos e o misticismo que reinava na época. Senti falta de uma trilha mais potente, isso em parte é explicado pelas produções da saudosa revista Heavy Metal. Mas os traços são bem harmoniosos e muito expressivos na composição dos Oms. 

Uma outra referência que me chamou atenção, foi o livro Café da Manhã dos campeões de Kurt Vonnegut, no qual há uma estória muito semelhante nos devaneios de Dwayne Hoover, até porque o livro também foi lançado em 1973. E Vonnegut tem em suas narrativas, mensagens pacifistas, ainda que encharcada de surrealismo.

Para quem é fã de animações, Planeta fantástico é obra obrigatória. E ainda que animação não esteja no hall das preferências cinéfilas, ainda sim vale a pena, pois a trama levanta várias reflexões.

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