Por Pachá
Quando nos deparamos diante das atrocidades cometidas em nome da fé incondicional, nos deparamos também com uma irrefutável verdade, de que a história das religiões é um grande horror, um terror praticados pelo ser humano contra sua própria espécie em nome de uma invenção imaginada que também tem o poder de agregar em torno de um credo imaginado comunidades e nações.
O roteiro de The Wicker Man traduzido no Brasil como O Homem de Palha é sobre tudo um embate entre costumes cristãos encarnado pelo puritano sargento Howie (Edward Woodward) e um ilha majoritariamente pagã e politeísta. Howie vai a ilha para investigar o desaparecimento de uma garota, e logo ao chegar em um hidro avião, percebe que essa investigação não será tarefa fácil, e de fato os moradores da ilha não facilitam a vida do sargento, há um misto de cinismo e verdades escancaradas a respeito da garota desaparecida, todos alegam que ela está morta.
Os diálogos são muito bem trabalhados, mesmo quando em forma de cantigas folclóricas (não se trata de um musical), que ajudam a entender o estilo de vida pagã dos moradores de Summerisle, que tem no sexo, relação com a natureza e ritos de fertilidade (partenogêneses), costumes que desagradam o sargento Howie. A fotografia é igualmente bem trabalhada, e toda trama se dá em luz do dia, o que amplifica o clima de mistério e um horror psicológico com bastante veracidade interna, que passa pelas locações, as máscaras para o ritual do mês de maio e uma felicidade dos moradores que sugere esconder coisas terríveis.
No elenco tem o imortalizado Drácula, Christopher Lee como o lorde Summerisle, e segundo ele na época do lançamento, disse estar honrado por ser este um dos grande papeis de sua carreira. A bond girl Britt Ekland que fez em 1974 O homem com a arma dourada, contracenando com Roger Moore. E Edward Woodward com uma interpretação impecável. A trama bem estruturada, diálogos enxutos escamoteando intenções, locações que garantem ainda mais veracidade em conferir a the wicker man muito mais que uma história detetivesca.
O filme teve um reboot em 2006 com Niclas Cage, que não conseguiu imprimir a mesma atmosfera e caiu naquilo onde o primeiro fugia, ou seja, um história de detetive. Midsommar também tem grande influência de the wicker man apostando em questões antropológicas que em minha percepção não garantiram a veracidade interna, caindo em em uma trama de horror mediana.
Um filme exemplar de horror moderno sem maniqueísmos com ótimas atuações, diálogos inteligentes, sensualidade, fé e sacrifícios em comunhão para o bem da comunidade, o que é a vida de um em comparação a de milhares, não é mesmo!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário