quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Tenet


Por Pachá

O diretor britânico Christopher Nolan que completa 50 anos esse ano, 2020, é notoriamente conhecido, reverenciado até, pelas suas produções com um grau de inovação acima da média dos blockbusters. O cara parece dominar como poucos, as questões financeiras que envolve produções, ou é no mínimo muito bem assessorado. Ele escreve suas próprias histórias, ele dirige, escolhe os atores. As locações são configurações do mundo real sem recorrer aos CGIs.


T E N E T em português significa dogma, doutrina, credo, pilar. E aqui, se entendi corretamente, se trata de uma organização, com vários tentáculos no espaço/tempo, que luta contra ameaças vindas do futuro que podem exterminar a raça humana. Porém não se anime, pois isso não ajuda em nada a montar o intrigante, instigante quebra cabeça que é o enredo do filme. A cena inicial lembra Batman The Dark Knight com muita ação e muitos detalhes do quebra cabeça. O público de língua inglesa reclamou bastante, pois não é possível entender os diálogos que se misturam aos efeitos sonoros e pelo fato dos atores usarem máscaras anti gás, o que não acontece para quem assiste ao filme com legendas. E nesse caso o titulo está mais para um palíndromo, palavras ou conjunto de  palavras que tem o mesmo significado em qualquer sentido de leitura.

A palavra chave do filme é inversão, e esta, está amparada nos postulados da simetria e física de partículas que consiste em três simetrias, reversão temporal T que é justamente a inversão do eixo do tempo no qual pode se observar a conservação ou violação dessa simetria, Nolan trabalha com a violação dessas simetrias, basta notar que as balas voltam para dentro das armas, carros andam para trás etc. A simetria de polaridade é semelhante a imagens refletidas inversamente no espelho, mas não só direita e esquerda, mas de trás para frente, de cima para baixo, também é observado conservação ou violação. Quando os personagens estão no mundo invertido, eles precisam usar máscaras de oxigênio, pois o corpo humana realiza inversamente o inspirar e expirar, o que pode levar a pessoa a morte. A simetria de carga de partícula  tem a ver com a troca de uma partícula com sua anti partícula, que no filme pode gerar a aniquilação mútua. Essa explicação é fornecida pelo roteiro de forma muito vaga e rápida, mas que também não é grande trunfo para entender o que se passa no quebra cabeça de Nolan.


Na cena no laboratório em que o protagonista (John David Washington) tem a explicação da munição invertida, é mostrado para ele justamente a violação da simetria da reversão temporal.

A primeira metade do filme a história é bem palatável, e bem explicada, bem como é a estrutura narrativa de inception, e o que não é explicado, como por exemplo, o motorista interrogando o protagonista, a bala que sai da cadeira no teatro ao invés de entrar, são peças do quebra cabeça que fornecerá a grande figura principal, mas a medida que a estória vai progredindo e não se tem a possibilidade de ver o todo e que talvez falte peças, pode enxergar nisso uma decepção. Eu particularmente fiquei com a forte impressão que tudo que se passa na segunda metade, é na verdade a viagem temporal que tem como ferramenta para "corrigir" eventos futuros, a reversão temporal, e desta forma não violar as simetrias desse futuro. 

Nas atuações, em minha percepção Kenneth Branagh é o grande nome, rouba todas as cenas em que participa com uma atuação que vai do vilão ardiloso para uma humanização bem ao nível de sua capacidade cênica, basta lembrar que o cara é um dos mais conceituados interpretes das obras de Shakespeare, tanto no teatro como no cinema. Robert Pattinson, David Washington e Elizabeth debicki estão bem, mas não conseguem competir com as belas cenas de ação, que em minha percepção tem a principal função de tirar toda e qualquer vontade entender o que se passa, mas sim deslumbrar criando um antagonismo instigante entre experiência visual emocionante e intelectualmente desafiador quanto frustrante. 

O filme, está dividindo a critica e público, uns acham uma obra prima, outros um grande exercício narcisista técnico de ação, confuso e belo.




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