1911 - 1979
"Havia o teatro (Griffith), a poesia (Murnau), a pintura (Rossellini), a dança (Eisenstein), a música (Renoir). A partir de agora há o cinema. E o cinema é Nicholas Ray".
Jean-Luc Godard, Au-delà des étoiles
Johnny Guitarr 1954
Por Pachá
É fácil perceber ao assistir Johnny Guitar porque o pessoal da Nouvelle Vague admirava o trabalho de Nicholas Ray. Johnny Guitar é um filme de baixo orçamento, mas de esmero cuidado estético, embora eu não goste das cores saturadas do sistema truecolor da época, a fotografia é bem cuidada assim como os corretos movimentos de câmera. Tecnicamente o filme não chama atenção, digo em sua estrutura clássica. Mas os diálogos são excepcionais, rápidos e mortais como uma colt. 45.
A trama reside em jogo de poder entre astuta mulher de negócios e fazendeiros locais. Vienna é encarnação da self made woman, numa época em que as mulheres viviam as sombras dos homens. Vienna após muita labuta como garota de saloon consegue numa distante cidade do oeste americano, montar um cassino. Acontece que o terreno em que está localizado o negócio de Vienna será extremamente valorizado com chegada do trem o que inflou a ganância dos locais que vêm nesse progresso uma oportunidade de diversificar atividades econômicas para aumentar suas já gordas contas bancárias.
E nesse ponto residem os conflitos bem elaborados do roteiro, escrito pelo romancista Roy Chanslor, Philip Yordan, Bem Maddow e Nicholas Ray onde a preocupação em diálogos dinâmicos e envolventes prende a atenção do espectador. A primeira cena dentro do cassino de Vienna quando o então Jonhnny Guitarra dar o ar da graça é um primor, uma verdadeira aula de construção de falas.
E nesse ponto residem os conflitos bem elaborados do roteiro, escrito pelo romancista Roy Chanslor, Philip Yordan, Bem Maddow e Nicholas Ray onde a preocupação em diálogos dinâmicos e envolventes prende a atenção do espectador. A primeira cena dentro do cassino de Vienna quando o então Jonhnny Guitarra dar o ar da graça é um primor, uma verdadeira aula de construção de falas.
(Johnny Guitar, 1954)
• Direção: Nicholas Ray
• Roteiro: Roy Chanslor (romance), Philip Yordan (roteiro), Ben Maddow, Nicholas Ray
Joan Crawford.....Vienna
Sterling Hayden...... Johnny 'Guitar' Logan
Mercedes McCambridge......Emma Small
Scott Brady......Garoto dançante
Ward Bond......John McIvers
Ben Cooper.......Turkey Ralston
Ernest Borgnine.....Bart Lonergan
John Carradine.....Tom velho
Royal Dano......Corey
Rebel Without a Cause 1955
Em 1955 Nicholas Ray rodou seu filme mais conhecido, Rebel Without a Cause, que no Brasil saiu com título Juventude Transviada. Lançado após outros filmes de mesmo tema; The Wild One 1953 (o Selvagem) e Blackboard Jungle 1955 (Sementes da Violência), Rebel Without a Cause sofre com as comparações, mas ao contrário dos antecessores influenciou toda geração pós guerra e fincou marco no cinema.
A trama reside no inconformismo juvenil, Jim Stark (James Dean) é um jovem, que apesar de família com recursos, acesso a faculdade apresenta sérios problemas de socialização, uma constante necessidade de auto afirmação cujo fundo provém de solidão e falta de limites, ou estabelecimento destes. Talvez haja no filme de Ray certo discurso machista, uma vez que o pai de Jim é um bolhão dominado pela mulher, mas que não consegue domar o filho. Em duelo de carros, celebre cena em que Jim pilota até beira de precipício, e ganha quem tiver mais culhão para frear depois, seu desafiador morre.
A interpretação emblemática de James Dean causou furor nos jovens da época, e criou a imagem e jargão do rebelde sem causa, curioso, pois o astro morreu precocemente ao espatifar uma porsche spider.
Mas quem levou os prêmios da academia foram os atores, Natalie Wood no papel de Judy que prefere os rebeldes e forma convincente par romantico com Jim. Também abocanhou prêmio Sal Mineo na pele de Platão amigo, não muito rebelde (meigo ao excesso), mas igualmente desprovido de presença materna e paterna. A cena na mansão abandonada em que Jim, Judy e Platão se refugiam é magistral, nos leva acreditar num possível triangulo amoroso, apenas nos olhares sem recorrer a palavras, creio ser essa essência a que a galera do nouvelle vague refere quando diz que, não importa se o filme é correto tecnicamente, ele precisa ter assinatura do diretor, algo presente em toda obra desse diretor. No caso de Ray são os diálogos precisos seja na palavra ou no olhar. Outra presença no filme é o rebelde, e continuou rebelde até fim da carreira é Dennis Hopper.
James Dean .... Jim Stark
Natalie Wood .... Judy
Sal Mineo .... John Crawford (Platão)
Jim Backus .... Frank Stark
Ann Doran .... Sra. Stark
Corey Allen .... Buzz Gunderson
William Hopper .... Pai de Judy
Rochelle Hudson .... Mãe de Judy
Dennis Hopper .... Goon
Anthony Quinn…Inuk, o esquimó
Yoko Tani…Asiak
Peter O'Toole…Policial canadense.
Amargo Triunfo (Bitter Victory) 1957
Sangue sob a Neve 1960 (The Savage Innocents)
Em região inóspita e gélida, Ray conta saga do esquimó Inuk vivido por Anthony Quinn. Os primeiros minutos do filme remente a documentário da BBC, a narração em off dá essa sensação. Mas o filme é carregado de humanidade na ingenuidade de um selvagem, que tem como principal meta, alimentar e encontrar mulher para sorrir debaixo dos lençóis, cumprida segunda missão, resta apenas preocupação com alimentação, esta é diária na caça de focas, raposas, ursos e baleias.
A primeira cena é dolorosa, pelo menos para quem é dotado de afeição pelos animais, um urso polar é arpoado, o mais esquisito é que cena nem parece do filme.
Tecnicamente o filme peca por alguns exageros, fotografia nada convincente para criar ambiente glacial quando em estúdio, as cenas de alimentação, onde há muita carne crua, lembra os trash de J.Waters. Mas em nenhum momento, tais exageros compromete a qualidade do filme, pois ainda sim é um filme de Ray, diálogos coesos, ágil...
Em contato com outro esquimo Inuk conhece arma de fogo, encantado com facildiade de abater caça e obter comida, quer saber como consegue uma. Inuk descobre que para conseguir, basta levar trocentas peles de raposa que homem de casa de madeira dá arma e munição em troca. Nessa trajétoria Inuk acidentalmente, mata homem branco por insulta-lo, o melhor insultar costumes de sue povo. E a partir dai Ray trabalha história para criar forte ligação com espectador através da ingenua humanidade do selvagem.
Há certa caricatura nas interpretações, principalmente nos personagens femininos, em minha percepção não muito convincente.
Um fã confesso desse filme é Bob Dylan que veio a compor Quinn the skimo, Mighty Quinn em tributo a Anthony Quinn.
Esse filme em conjunto com Jornada Tétrica, 1958 (que não assisti) compõe a duologia Homem e Civilização.
Yoko Tani…Asiak
Peter O'Toole…Policial canadense.
Amargo Triunfo (Bitter Victory) 1957
Ambientado na segunda Guerra Mundial e explosivo triangulo amoroso de pano de fundo, Ray cria denso drama, ao colocar lado a lado em missão dois oficiais apaixonados pela mesma mulher.
Major Brand (Curd Jurgens) tem grande desafeto pelo seu par Capitão Leith (Richard Burton), que no passado foi amante de sua esposa, Jane Brand (Ruth Roman). Os dois são escalados para importante missão militar em campo alemão em pais do oriente médio.
Como marca dos filmes de Ray esse também tem potente diálogo entre Leith e Brand e alcança ápice no deserto, quando prestes a morrer Leith diz o que pensa a respeito de Brand e junto com competente movimento de câmeras cria memorável cena.
LEITH “You’re not a man, but an empty uniform, standing by itself.”
BRAND “Yes. But I stand.”
LEITH “Yes... Yes... You stand... And, for the first time, I have some kind of respect for you. You’d better go.”
LEITH “Anyone to notify?” Pergunta Brand se preparando para deixar "colega" entregue a morte.
Ao retornar pra base e receber glorias de missão bem sucedida, Brand nada diz a Jane quando essa pergunta por Leith e assume de vez sua condição de covarde, de homem que está condenado a viver com atos em constante conflito com consciência.
Esse é o primeiro filme de Ray longe de Hollywood, co-producão franco-alemã rodado na Líbia. O filme fracassou nas bilheteiras e contribuiu para empurrar carreira de Ray ainda mais para fundo do poço, ele que já vinha de grande fracasso com The true History of Jesse James, diante disso os problemas com álcool e drogas aumentaram. Ray era um homem liquidado.
Ainda sim a galera do cahiers du cinéma, Godard, rasgou seda para o filme, e foi nesse numero da cahiers que ele escreveu.
"Havia o teatro (Griffith), a poesia (Murnau), a pintura (Rossellini), a dança (Eisenstein), a música (Renoir). A partir de agora há o cinema. E o cinema é Nicholas Ray".
Nenhum comentário:
Postar um comentário