segunda-feira, 5 de março de 2012

Vidas Secas

Por Pachá
Vidas Secas está na centésima sexta edição, este fato por si só, mostra não só grandiosidade da obra, como também atualidade. A vida dos nordestinos castigados pela seca não mudou muito de 1938, quando livro foi publicado, para os dias vindouros.

O estilo é seco, seco como a caatinga, reduzido ao essencial como ração no circulo da seca dos nordestinos. Mas nem por isso perde força, assim como próprio nordestino, e como disse Euclides da Cunha em Os sertões, "todo nordestino é antes de tudo um forte". As reflexões de Fabiano, nordestino pai de família, mulher e dois filhos, diante da hostilidade do meio que o cerca e homem que o explora, é a síntese da força desse povo, resignado, que renova esperança assim que nuvens escurecem de chuva, prontas a dar vida a estorricada terra.

O contexto mundial durante grande parte da década de 30 foi de fome nas cidades e no campo, o crash de 1929 empurrou mundo para abismo. No Brasil crise cafeeira, revolução de 1930 tornaram ainda mais aguda secas de 1939 e 1940 na região do nordeste brasileiro. Ao contrário dos romancistas da época, Graciliano evitou voz de protesto em seus personagens, e focou história no homem, natureza hostil e questão social, empregado empregador. Fabiano vive com que natureza dá, sem saber ler ou fazer contas,  fica a mercê da esperteza de patrões. Sua mulher, sinhá Vitoria tem sonho de colchão de couro, anseia viver como gente, não como bicho. Os filhos vivem sem noção da miséria. A família tem na cadela baleia membro bicho. Baleia sonha com peludos préas pela caatinga.

Vidas Secas é retrato fiel do retirante pobre nordestino que vaga nas áridas paisagens, fugindo da seca, da morte. Esse conhecimento de costumes nordestino é marca do estilo de Graciliano presente na maioria de suas obras, São Bernado, para os críticos obra prima da literatura brasileira, Infância, Caétes e até  mesmo seu livro de resgate do folclore nordestino, Alexandre e Outras Histórias tem esse sotaque.

Vidas Secas ganhou em 1962 prêmio Fundação William Faulkner como livro representativo da literatura brasileira contemporâneo. 

É um dos tantos clássicos da literatura brasileira obrigatório em escolas e universidades. Não gosto da palavra obrigatório, acredito que sistema educacional deve criar meios de internalizar gostos pela leitura e não forçar, no caso do aluno de ensino fundamental, ler livro para fazer prova. 

Lembro da forte emoção que senti na passagem em que Fabiano precisa sacrificar baleia pois esta esta doente sem recuperação. A mesma que senti ao revisitar essa magnifica obra literária.


A record está relançando todos as obras de Graciliano com belas ilustrações. Mas no caso de Vidas Secas, prefiro capa acima. 


Em 1963 Nelson Pereira dos Santos levou para tela saga de Fabiano e sua família. Devo adiantar que filme vidas secas alcançou, ainda que limitado a linguagem do meio, grandiosidade da obra de Graciliano.


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