domingo, 13 de janeiro de 2013

A Viagem - Cloud Atlas

Por Pachá
A julgar pelo título brasileiro, à minha lembrança vem certa novela da globo de mesmo título. Um dos protagonistas, Tom Hanks é um ator que tenho imensa implicância. Mas o longa, que faz jus ao termo pois são quase três horas de filme, tem assinatura dos irmãos Andy, Lana Wachowski e Tom Tykwer diretores  que tenho em grande estima, os primeiros pelos ótimo Ligadas pelo Desejo, Matrix e o segundo por Lola, corra, Lola, A princesa e o Guerreiro etc.

Ao colher informação sobre o filme descobre-se que o budget para o projeto foi algo em torno de USD 100MI, nada de mais para industria Hollywoodiana, a não ser pelo fato de que o filme é independente. Certamente o termo independente para filmes americanos não será o mesmo depois de Cloud Atlas.

O filme tem elenco grandioso, com muitos nomes famosos, Tom Hanks (sic!), Hally Berry, Hugo Weaving, Hugh Grant, Susan Sarandon e alguns rostinhos frescos e viscosos que logo cairão nas graças de grandes produções. Após as três horas de filme o que fica mesmo é a belíssima estrutura narrativa que é puramente calcada em idas e vindas no tempo, com temporalidades diferentes, sem criar a menor confusão. De clara mensagem, de que pessoas estão conectadas e como a historia é feita de pessoas onde o tempo é a força motriz, essas conexões podem escrever ou re-escrever a historia, restando alguns dispositivos e/ou gatilhos para acionar essas mudanças, que não são a curto prazo. E neste reside certa sagacidade dos criadores ao perceber que tais dispositivos estão dentro da arte, musica, literatura, cinema e não da tecnologia pura e simplesmente. Acredito que Cloud Atlas é um filme anti-tecnologia, anti ciência enquanto ferramenta para hegemonia econômica.  Basta ver o uso da tecnologia no filme, mais como aparato de escravidão e alienação, onde a arte entra não só para alterar a realidade, mas para humanizar os que da tecnologia dependem.

O filme abre com um dos personagens de Hanks em um futuro (ano 2221) apocalíptico narrando uma historia sob céu estrelado, tal qual deve ter feito o pai da Historia, Heródoto alguns mil anos atrás. Corte, e temos cena do capitalismo industrial onde alguns Estados já estavam em estágio avançado, como a Inglaterra que percebeu a importância de manejo de capital e não de terras e homens como pregava o sistema feudal. Corte, e somos levado ao pap-song um restaurante boate da megalopole neo-Seul onde mulheres concebidas em úteros artificiais vivem para servir os de puro sangue, ou seja, nascidos em útero genuíno. E dai sai frase que aparece diversas vezes ao longo do filme... "a carne do fraco alimenta o forte", que muito bem se aplica ao capitalismo de exploração, dentro de materialismo histórico.

Nesses pulos de temporalidade com enredo fragmentado reside o grande diferencial do filme, dado que a historia em si menos que mediana, da luta pela liberdade, sobrevivência e futuro da raça humana. Tal dilema da condição humana acaba por ser secundário, sem muito aprofundamento com explicações rasas e supersônicas. O Morfeu dos puro sangue leva pouco mais de dois minutos para expor a Sunmi-451 (Doona Bae) a realidade da neo Seul (ano 2144), a esta que por sua vez bem pode ser Neo de Matrix. Numa analise vulgar, diria que a cereja do bolo é o grande atrativo, enquanto o bolo em si é razoável. Mas por outro lado creio que este parece ser o objetivo principal do filme, não quero acreditar que diretores do porte dos Wachowski e Tykwer cometeria tal equivoco, de criar um filme oco por inépcia, sem saber o que estavam fazendo. Logo tal superficialidade do roteiro me parece proposital, e portanto aceitável.

Mas contendo ou não mensagem evoluídas o filme é ótima diversão, vale não só ingresso como as três horas de bunda cadeira.







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