domingo, 27 de janeiro de 2013

Aqui é o Meu Lugar

 Por Pachá
This must be the place é uma canção dos Talking Heads que fala sobre a felicidade de sentir-se em casa. E já no título temos o primeiro de muitos antagonismos ou antíteses na proposta estética de Paolo Sorrentino. O protagonista Cheyenne (Sean Penn) vive um astro de rock cinquentão americano que vive em Dublin, que a primeira vista, parece decadente, mas sem pressa Sorrentino desconstrói essa imagem de maneira que não é difícil criar afinidade com personagem.


Cheyenne é um lenda do rock gótico que poderia estar imerso em universo nostálgico, mas Sorrentino foge dessa armadilha ao dotar personagem de imensa contemporaneidade e perfeitamente adaptado a modernidade sem ser consumido por esta. E se ele, Cheyenne, se mantém preso ao passado com seu cabelo à Robert Smith do Cure, visual Glam, glitter é outro ponto muito bem trabalhado pelo roteiro, moderno x antigo. Esse jogo de temporalidade permeia todos os diálogos, seja nas questões emocionais, materiais e principalmente de relacionamentos. No desenrolar lento, na voz cansada e rotina de Cheyenne arrastando carrinho de compras pelas ruas de Dublin, sua relação com  dinheiro, seu bem sucedido casamento com Jane (France McDormand) cria interessante contraste de imagem de um ser, que a principio julgamos frágil e descolado da realidade, mas é justamente nesse contraste que reside força motriz do filme.


Há tempos, 30 anos, sem falar com pai, Cheyenne vê na morte deste o motivo para voltar a América. De família judia ele descobre que seu pai dedicou grande parte da vida em encontrar carrasco nazista que o torturou em campo de concentração. E com ajuda de famoso caçador de nazis parte para concretizar o póstumo desejo do pai. A partir deste ponto a historia de Cheyenne se transforma em road movie permeado de fatos inusitados, tais como o jantar em restaurante japonês onde conhece sujeito que lhe empresta imponente caminhonete na qual Cheyenne vai cruzar os Estados Unidos a procura do algoz de seu pai. Ou mesmo a parada em lanchonete onde conhece garçonete que o leva para casa no meio do deserto onde vive com filho que tem medo de mergulhar. Este desenrolar me pareceu algum desencontro do roteiro, mas que não chega a comprometer trama.

Sorrentino que é italiano cria filme de belas nuances onde o que se mostra entra em choque com as intenções, com explicita mensagem de que as imagens carecem de lastros para dizer o que pretendem.

Certamente é desses filmes que nos leva a reflexões sobre rumo de nossas vidas, amigos, família, profissão e todos esses lastros necessários para se manter "são" em um mundo cada vez mais insano.



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