sábado, 26 de janeiro de 2013

Crucificação Encarnada - I Sexus

Por Pachá
"Não acredite em nada, não importa onde o tenha lido ou quem o tenha  dito, nem mesmo se eu disse, a não ser que isso acorde com sua própria razão e seu bom senso"
Buda


Em época de tons de cinza e outras atrocidade que tem no sexo o grande attrayant para alcançar leitoras e leitores, o que dizer de um livro escrito em 1949 que retrata uma Nova Iorque da década de 20 e 30 onde a fruição é o remédio e antídoto contra a realidade opressora do pós-guerra? Assim é sexus volume primeiro da trilogia crucificação encarnada, onde entre as dificuldades do dia-a-dia que nos faz sujeito e parte integrante dessa grande engrenagem que é o capitalismo, e no outro lado, nossas pulsões, anseio de dar sentido a algo que não tem sentido, pois tudo não passa de emoção, desejo e necessidade, assim é Henry que toca sua ignóbil vida onde os objetivos primeiros são, fuder e um bom e farto prato de comida, não necessariamente nessa ordem Henry  vai matando seus dias entre as picuinhas de um trabalho que nada serve, se não prover ao final do mês o subsidio para sua vocação, escrever, mas ele ainda vive sob a duvida de sua veia literária. Nesse ínterim ele conhece Mona uma táxi girl em salão de dança. Entre eles nasce tórrida paixão.  A partir desse ponto o livro galga nas loucas aventuras sexuais de Henry e Mona, transa dentro do táxi, na rua, em terrenos baldios. Narradas sempre com certa crueza de detalhes, mas assim é o animal homem em suas necessidades básicas, comer e acasalar, sem frescuras, ou pudor, ou moralismo.

Henry Miller que encarna sua crucificação nessa trilogia que mistura ficção com autobiografia remonta passado duma Nova Iorque durante os anos loucos, onde a vida era tragada como se não houvesse amanhã. Tal comportamento certamente não era exclusividade de Sr. Miller, o mundo vivia nesse frenesi dado as calamidades promovidas pela I Guerra Mundial. Miller vai dissecando e questionando a vida, arte e as relações dos seres humanos ao seu redor. Seus debates intelectuais com Sr. Kronski são intensos, numa clara influencia de Dostoievski. Há determinada passagem onde em viagem de automóvel, surge caloroso debate das motivações do artista. 

"... a arte não é espetáculo para solista; é uma sinfonia no escuro com milhões de participantes e milhões de ouvintes. A apreciação de uma bela idéia nada é comparada à alegria de dar-lhe uma expressão..."

Passagens como esta a que o livro está repleta, algumas com clara mensagem de auto ajuda, mas na época tal gênero não existia, põe por terra a classificação do livro como imoral, erótico, pornográfico. Ai volto a citar Mannara para quem a diferença entre pornográfico e erótico, reside tão somente no poder aquisitivo de quem consome tal gênero.

O estilo de Miller é simples, em claro esforço de se escrever como se fala, inclusive isto é mencionado pelo autor na busca pela sua voz de escritor, de saber transpor para o papel pensamentos e ações de vida boemia. Os personagens, fictícios ou reais, são bem construídos, muito embora é possível notar certo pedantismo, pois todos amam Henry a despeito das ofensas que ele possa lhes lançar, pois suas verdades sempre agem como algo libertador, constrangedor, humilhante ate, mas libertador. A trilogia da crucificação encarnada é seguida por plexus II e nexus III, escritos quando autor gozava de considerável fama no universo literário. 

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