segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Django Livre

Por Pachá

“ Quero ver eh eh quando Django chegar,  o que vai acontecer...”

O novo filme da Tarantino não tem  revisão da história no que toca a condição do negro, escravo e desenraizado de sua terra natal. Mas a figura de Django (Jamie Foxx) que alcança sua alforria por ajudar caçador de recompensa, Dr. King Shultz (Christoph Waltz), bem poderia ser a encarnação americana de Zumbi já que não há na historia americana tal mito.

Django como todo negro em meados do séc. XIX tinha destino certo, trabalhar até a morte nos campos de algodão, com sorte conseguia trabalho menos sofridos na casa grande. Django está no primeiro time, dos que irão ser consumidos pelo trabalho forçado até a ultima gota de seu suor. A estética do filme de Tarantino como não poderia deixar de ser, está imerso na cultura do movimento blaxploitation da década de 70 do séc. XX. E ai sobra anacronismo, a começar pela trilha sonora, que tem lugar até para o rap, a mim, pareceu exagero, mas as quase três horas de filme está repleto de exageros. Não que isso torne o filme ruim, longe disso, pois o filme é bom, muito embora em minha opinião é o mais fraco filme de Tarantino até o momento.

Logo nas cenas iniciais, o primeiro tiroteio, onde o Dr. Shultz mata dois negociantes de escravos e liberta Django sob o pretexto deste conhecer as fisionomias dos irmãos Brittle, procurados pela justiça que vai lhe render boa bolada. A cenas de sangue espirrando tal qual nesses filmes moderninhos me incomodou também, pois perde a marca Tarantino. Mas esses pequenos deslizes são compensados pelos ótimos flashback de Django e a boa dinâmica entre os dois atores, Foxx e Waltz e pelo ápice do filme, o tiroteio dentro da casa grande, que é bem legal, dando toda mostra de Tarantino em domínio de cenas de ação, mas em minha percepção um tanto longe de algo que diga, tai um filme de Tarantino, nem mesmo os diálogos característicos do universo tarantino está presente, há um esforço na cena em que o mega senhor de escravos, Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), o dono de "Candyland" descobre as intenções de Django e Dr. Shultz que nada tem haver com compra de lutadores negros, e sim recuperar amada de Django, Broomhilda (Kerry Washington) que foi separada de Django pelos irmãos Brittle. A cena de uma suposta ku klux klan no qual o ator Don Johnson é o líder e parte junto com seus cumpinchas para esfolar o baba ovo de negros e o próprio Django é engraçada, como nunca houve em um filme de Tarantino, alias outro exagero do filme, as piadas, algumas desnecessárias.

Mas se sobra piadas há as atuações, essas o grande trunfo do filme. A começar por Waltz irretocável, com humor negro, cínico e ao mesmo tempo sensível, é o grande nome do filme. Foox dá grande peso ao personagem, mas creio que em parte ocorre pela sua atuação junto a Waltz, muito embora consiga manter carisma diante do brilho de waltz. Outro peso pesado do filme é DiCaprio em grande forma como refinado aristocrata que para fugir do tédio treina e agencia lutas de negros, uma espécie de gladiadores modernos. De temperamento explosivo e atitudes sádicas seu personagem beira ao patológico. As participações também são louváveis, ainda que fulminantes. Temos o próprio Franco Nero que viveu Django no filme de Sérgio Corbucci de 1966, como um dos tantos senhores de escravos que para fugir do tédio pões seus escravos para lutar. Tom Savinni mestre das maquiagens e efeitos especiais como capataz de Calvin. Tom Wopat o Luke Duke de Os Gatões, Bruce Dern de Amargo Regresso e John Hill o queridinho de filmes de comédia do séc. XXI como membro da Ku Klux Kan, onde protagoniza uma das cenas mais engraçadas do filme juntamente com Don Johnson (O Sonny Crokett de Maimi Vice).

A despeito de qualquer comentário negativo, os filmes de Tarantino se destacam por não serem óbvios, e repletos de referencias de quem realmente gosta de cinema, e ai reside sua genialidade, tal fato me torna fã de seus filmes, sendo estes bons ou ruins, pois sempre vai haver em suas historias espaço para uma enxurrada de referencias cinematográficas, tributos e homenagens que torna seus filmes no mínio interessantes, nunca ruins.

Há duas curiosidades do filme que chamam atenção, uma é o sangue de verdade que rola na cena em que DiCaprio corta mão na mesa ao desmascarar Django e Shultz, que ele esfrega no rosto de Broomhilda. O segundo é um dos tantos anacronismo, uso em excesso da palavra “nigger” extremamente pejorativa nos EUA, causou indignação em certos ativistas das causas dos afro descendentes. O próprio Spike Lee em entrevista disse se recusar assistir ao filme pelo descaso na abordagem da escravidão e desrespeito com a raça negra, seus ancestrais.

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