quarta-feira, 26 de março de 2014

12 years a Slave


Por Pachá
Steve McQueen certamente já se firmou como diretor polêmico. Hunger e Shame seus filmes anteriores tem a marca do incomodo, desconforto. Em 12 anos de escravidão ele se ampara em fatos verídicos para narrar descida ao inferno de Solomon Northup que mesmo sendo forro, voltou a condição de escravo numa pratica de sequestro muito comum a época. Vivido por Chiwetel Ejiofor que confere a historia toda carga dramática sem esbarrar em clichês dos filmes do gênero, o filme tem recorte histórico muito bem desenvolvido, ainda que adaptado do livro homônimo escrito por Solomon após retornar a sua condição de homem livre. Com orçamento modesto, por volta de 20 milhões o filme tem a explicita receita para abocanhar óscares. Mas há em sua premiação justiças e reconhecimentos, ainda que tardio. É a primeira vez que um Oscar de melhor filme vai para um diretor negro.

O roteiro bem estruturado de John Ridley foi muito bem assimilado pela direção. O entrosamento entre roteiro e direção fica patente em cenas como a que Edwin Epps personagem de Michael Fassbender persegue Solomon com faca numa cômica porem trágica brincadeira de criança. Claro que não podemos negligenciar a qualidade dos atores em cena, cuja interpretações em maior ou menor participação nada diminui o trabalho de formação de personagens ou mesmo atuações, que é outro forte do filme. Não pra menos teve Lupita Nyong'o premiada com Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel de Patsey. E se por um lado o filme encanta pela condução e atuações carrega também a irritante e nítida percepção de concepção dentro da receita para ganhar Oscar. A historia possui comoção. O sofrimento permeia o longa. O sadismo dos senhores do algodão e cana-de-açucar também estão presente, e nesses residem o gancho da produção, no mais prefeito estilo John Ford para verter lágrimas dos espectadores. O mérito do terceiro filme de McQueen é que toda pieguice foi muito bem escamoteada pela direção, em parte pela escolha dos atores que confere aos drama pessoais dos mesmos veracidade.

Em meados do sec. XIX os EUA se firmava como grande nação com forte inversões de capital rumo ao desenvolvimento econômico, mas fratura entre região sul pouco industrializada e conservadora destoava da região norte, industrial pouco ou nenhum uso da mão de obra escrava, fatos estes que vão culminar na guerra civil americana ou de secessão. Fica bem caracterizado no longa que a despeito da utilização do negro como mão de obra escrava, alguns tinham mobilidade social, poder de compra assim como acumulo de capital. Era uma microscópica minoria. McQueen aponta lente para instintividade do ser humano, sua adaptabilidade e força inexplicável e irrestrita pela sobrevivência, e para quem ache nisso tudo devaneios darwinianos o romantismo da historia fica por conta da resoluta determinação de Solomon de voltar para o seio da família da qual foi arrancado abruptamente. Mas Solomon não quer apenas sobreviver, seu sofrimento para se manter vivo nas plantações da Lousiana tem como consolo voltar a viver, uma vida já experimentada de roupas caras, compras, jantares e uma família livre das agruras da escravidão. Esses planos da vida de Solomon foi muito bem sacado na estrutura do roteiro não muito linear, com antecipação de acontecimentos que nada fere o entendimento, ao contrário cria atmosfera de apreensão e desconforto numa expectativa chorosa de desgraça iminente.

As interpretações são precisas de um elenco grandioso, Paul Giamatti, Brad Pitt, Michael Fassbender, Benedict Cumberbatch, Paul Dano todas em perfeita comunhão com protagonista Chiwetel Ejiofor, muito embora a presença de Lupita ganhe brilho quando entra em cena, como a resignada e sofrida Patsey que mesmo querendo não consegue dar cabo de seu sofrimento e para isso recorre ao instruído Solomon para que a afogue no rio. As cenas em que o silencio reina, onde ficamos por conta das imagens e expressões de Solomon, creio, foi a forma elegante de fugir as armadilhas de filmes piegas.

12 years a slave firma McQueen como diretor do apego a vida onde o trajeto é repleto de infortúnios que é pouco explorado pelo cinema orientado para estatuetas douradas. No mais é torcer para que diretor não tomo gosto pela fama faça filmes tipicamente hollywoodianos.

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