sábado, 29 de março de 2014

Rainha Diaba 1974

Por Pachá

O bairro da Lapa no centro do Rio de Janeiro é repleto de inspiração marginal para escritores e diretores. Antônio Carlos com ajuda da pena de Plínio Marcos cria o personagem Rainha Diaba vivido por Milton Gonçalves, um travesti que comanda com navalha e tortura a distribuição de drogas na Lapa.

A idéia de uma Madame satã mais endiabradamente bandida não é mera coincidência, afinal eles tinham que fugir ao plagio total e o resultado é bem interessante, em parte pelas atuações. Milton Gonçalves como Rainha Diaba com ataques de histerismo e pelanca já vala os 100 min do filme. Stepan Neecessian como Bereco um pivete com aspiração a malandro do pedaço também esta mais que correto. O ardiloso Catitu muito bem interpretado por Nelson Xavier forma o trio infernal. Porem não passa despercebido igualmente, os diálogos, carregados de gíria com cunho explicitamente literário graças a influencia do escritor Plínio Marcos que tem no mundo marginal da malandragem, rufiões  e prostitutas o substrato para seus teatros, as quais algumas foram adaptadas para o cinema, Navalha na Carne, Dois perdidos numa Noite Suja.

Na trama o reinado da Daiba começa a ruir quando ela num plano mirabolante tenta evitar que os meganhas coloquem na prisão o belo Robertinho, um dos vaporzinho da Diaba. Mas  os canas precisam levar alguém e para isso, Catitu é incumbido de criar marginal para tomar lugar do protegido da Diaba. Catitu enxerga na inexperiência de Bereco, um bandidinho vapor sustentado por cantora de cabaré  interpretado por Odete Lara, o pato perfeito. Mas Catitu tem plano mais elevados, e vê nessa artimanha uma brecha para passar a Diaba e se instalar como poderoso do pedaço.

Na década de 70 o cinema nacional vivia um impasse entre, se aproximar do cinema Hollywoodiano e com isso negar realidade social do pais, ou abandonar o conservadorismo  decorrente do moralismo estabelecido nas décadas anteriores. O Brasil no período vivia o milagre econômico, do êxodo rural, do crescimento desordenado das metrópoles, das favelas e redutos para nascimentos da grande massa de excluídos. Habitat prefeito para nascimento de personagens como João Francisco dos Santos, pobre, negro, homossexual e traficante que barbarizou a Lapa nos anos setenta e que inspirou argumento de Plínio Marcos. 

A fotografia bem trabalhada de José Medeiros está bem casada com trilha sonora de Jards Macalé que além de imprimir ritmo correto ao filme, contribui para atmosfera decadente dos personagens a beira do abismo social dos tem na exploração, muitas vezes degradantes do próximo, o mote para sobrevivência.

É curioso saber que esse mesmo diretor, capaz de fazer uma pérola dessas, assina o filme Somos tão Jovens…


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