sexta-feira, 18 de abril de 2014

Her (Ela)


Por Pachá
Uma maquininha com voz criptografada carregada de sexy apeal, um homem solitário e introvertido, e temos uma curiosa e insólita historia de amor. Não que contenha no tema, interação ser humano máquina, novidades para o cinema. Na década de 80 John Huge em mulher nota 1000 deu voz e corpo as travessuras virtuais de nerds solitários. O que encanta e espanta no filme de Jonze é que as relações entre sistemas operacionais e seres humanos exploradas no filme Ela, guardando as devidas proporções, em nada difere do uso indiscriminado e excessivo das redes sociais de hoje. O futuro preconizado por ELA também vai ao encontro das teses de Zygmunt Bauman e sua era líquida. Onde nada tem forma, pois esta apenas se molda por frações de tempo cada vez menor, sem vínculos sem alteridade. Pois vivemos numa era de exposição ao extremo, inversamente proporcional as desilusões pessoais, ou seja, quanto maior nossa carência e vazio pessoal, mais nos apegamos ao mundo de interações virtuais. E assim como o sonho,  temos no mundo virtual tudo que nos é negado enquanto acordado.

Theodore (Joaquin Phoenix) é um sujeito introvertido, que ganha a vida escrevendo cartas de temas diversos para terceiros em uma empresa especializado nesse serviço, a beautifullwrittenhandletters.com. Recém separado ele ainda vive a sombra desse amor. E quando descobre o OS1 Samantha, há uma transferencia do vazio deixado pela separação. E sua interação com Samantha, na sexy e arranhada voz de Scarlett Johansson é a tábua de salvação para afogados com Theodore. Samantha evolui a medida que interage com Theodore, que fica cada vez mais dependente de Samantha. Entre eles surge um amor regido pelas mesmas regras e armadilhas da vida real. Samantha perde bits de ciúme pela ex-mulher de Theodore. Para ausência de corpo ela contrata profissional para apimentar a relação. Theodore sofre ao saber que enquanto estar com ele, Samantha ama ao mesmo tempo 641 outros, entre OS e seres humanos.

O futuro com ares retrô na concepção da fotografia e figurino, é apenas uma tentativa de apego orgânico ao passado, alias já está virando clichê essa composição, detalhes  de tempos passados em filmes com temáticas sci-fi. Em Ela, há cortes de cabelo, roupas, óculos e até o mini computador no qual Theodore se conecta com Samantha mas parece um porta cigarros ou algo que o valha.
A fragilidade das relações humanas está bem pautada nos personagens, Catherine (Rooney Mara) e Amy (Amy Adams) despejam ainda que em poucas aparições, esporádica no caso de Catherine o peso de viver em um mundo veloz, de muita comunicação e pouca interação com o outro. Os personagens de Amy e Rooney faz ainda que sutil, interessante contraposição entre o antigo (antiquado) e o novo, Amy entende Theodore seja pela empatia de também estar interagindo com um OS após seu marido decidir virar monge, seja pelo seu ar de descrença nas relações humanas. Catherine o repreende quando sabe que Theodore esta apaixonado pelo laptop e o acusa de não saber exteriorizar seus sentimentos.

Nos personagens reais, com voz e corpo, não tem pra ninguém Joaquin Phoenix rouba todas as cenas, Alias ele esta em todas as cenas do filme. Suas expressões faciais e corporais, olhares dão a exata medida da solidão, da insegurança na trajetória existencial do homem contemporâneos. Outro destaque é o emprego da voz de Johansson que proporciona diálogos intensos e convincentes entre máquina e homem.

O olhar fora da caixa quando o tema é interação humana, permeia os filmes de Jonze, vide Quero ser John Malkovich e adaptação, Onde vivem os monstros. Em Ela sua visão das relações e trocas afetivas no futuro de interação maciça entre seres humanos e máquinas não é pessimista, porém inevitável. E ainda assim não impede de nos brindar com uma historia sensível, delicada repleta de fragmentos do cotidiano, pois este é atemporal.

A trilla sonora, como não poderia deixar de ser, Jonze começou como diretor de vido clipes de bandas como Sonic Youth, Bjork etc… tem Arcade Fire, The Breeders, Yeah Yeah, The Chantels, NASA, Willie Collins e a musica tema esta na voz de Karen O.




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