terça-feira, 17 de junho de 2014

Fando y Lis 1968

Por Pachá
Recentemente li uma matéria sobre Jodorowsky, esse chileno multifacetado, místico, ator, mimico, diretor, quadrinista, que hoje conta com 85 anos e volta a filmar depois de um hiato de quase 23 anos. Após ler a matéria senti uma vontade incontrolável de rever Fando e Lis. Esse seu primeiro filme não é seu melhor dentro da minha prosaica opinião. Se fosse apontar seu melhor trabalho, ficaria com El Topo.

Fando e Lis embora não seja tão carregado de simbolismo como El Topo ou Holly Mauntain, contém prosa poética permeando a historia do casal que atravessa um mundo pos apocalíptico em busca de Tar uma cidade mítica que não foi atingida pelas calamidades que assolam a Terra.

A relação entre Fando e Lis nada tem de apego ao realismo estruturado da vida real a começar pela narrativa em forma de poema que em muito lembra Dante em a Divina Comédia, inspiração explicita logo na abertura do canto 1 onde nos é mostrado ilustração do purgatório de Gustave Dorè com narração do próprio Jodorowsky. O casal na procura do caminho para Tar segue as pistas de um Bispo pedófilo que os leva a um rio de lama, e ai qualquer semelhança com obra de Dante não é coincidência. Lis por motivos não explicados não anda, mas também não é paralitica já que consegue ficar de pé, e portanto Fando tem que carrega-la o tempo todo em um carrinho ou nas costas. A metáfora na relação amorosa do casal reside na máxima de que é um fardo carregar a felicidade alheia, não a toa que Lis repete a todo instante, “ Fando não me abandone, eu não tenho mais ninguém nesse mundo”.  E invariavelmente Fando acaba por magoa-la ou destrata-la  já que ela mesma perdeu todo amor próprio.

A narrativa com elementos surreais ou fantástico tem também como referencia os contos de Cortázar sem o misticismo, o qual Jodorowsky é impregnado, o cara também joga cartas de Tarô, e a despeito de qualquer misticismo ou simbolismo implícito, as imagens de Jodorwosky nos lembra delírios ou mundo onírico pautada nas descontinuidade de cenas que nada tem de falhas tão pouco inépcia do diretor. E talvez essa atmosfera onírica explique o fato de Lis não poder andar ou correr tal qual em sonhos em que andamos ou muito devagar ou nem mesmos nos mexemos em situação de perigo. As interrupções a que esta sujeito a trajetória do casal, também nos remete aos sonhos que terminam e começam de outro ponto, em comunhão com os postulados freudianos, muito em voga na década de 70. Ao final do filme nos perguntamos se os delírios de Fando e Lis não são frutos de seus sonhos e/ou pesadelos do qual eles ainda não acordaram. Mas Jodorowsky não abre mão do simbolismo tarólogo, e trás a salvação de Fando e Lis na morte, não de finitude mas de liberdade, renovação quando ao final vemos os dois corpos nus correndo pelo bosque, e Lis não mais é uma paralisada.

Fando e Lis é um filme com historia pouco ou nada convencional com profundos toques de surrealismo, delírios e o interesse é despertado por esse motivo, no qual cobra do espectador reflexões e interpretações para as parábolas de Jodorowsky.

Como curiosidade o filme que estreou em 1968 no festival de Acapulco incitou uma multidão (cuja opinião quase sempre é moldada por comentários de terceiros) tentou linchar o diretor. Mas nada que viesse a impedi-lo de alcançar respeito no cenário underground primeiro com; El Topo de 1970, filme que ganhou atenção e elogios de John Lennon que veio a ser patrocinador de Holly Mountain de 1973. Tusk em 1980 e Santa Sangre em 1983. Sem mencionar seus trabalhos como quadrinista juntamente com Moebius cujo a saga Incal é a mais conhecida e aclamada pelo publico especializado.


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