segunda-feira, 30 de junho de 2014

Alma Corsária 1993

Por Pachá
Alma Corsária é considerado o trabalho mais importante de Carlão como era conhecido o falecido diretor Carlos Reinchenbach (14/061945 - 14/06/2012). Permeado com cenas biográficas da juventude do diretor, o longa narra a historia de dois amigos que unidos pela poesia e leitura vem a amizade varar tempo e acontecimentos históricos do pais, como o regime militar que é abordado com muito humor nas cenas protagonizadas por Rivaldo Torres (Bertrand Duarte).

O filme é narrado em fragmentos do inicio da amizade entre Rivaldo e Teodoro Xavier (Jandir Ferrari) na ocasião do lançamento do livro de poesia a quatro mãos, ou seja, escrito pelos dois amigos. O lançamento do livro acontece numa pastelaria, reduto de cafetões, prostitutas, jogadores e demais excluídos  Então somos enviados aos anos 50 onde os dois protagonistas se conhecem no interior de São Paulo. E a partir desse ponto o filme ganha ares cômicos, intercalados por momentos de infelicidade do garoto Rivaldo de origem pobre que tenta levar a cabo sua decisão de se tornar escritor.

Em se tratando de resgate do período sombrio da Historia brasileira, o golpe militar seguido de 21 anos de regime militar, o filme não é grandes coisas, e nem deve ser visto com esse olhar, dado que toda abordagem beira o cômico. Carlão colocou em seu filme a máxima proferida por Truffaut de que a função primeira do cinema é o entretenimento. Em nenhum momento Alma Corsária é enfadonho, pelo contrário o filme é uma aula de ritmo cinematográfico, com começo despretensioso e que vai ganhado toda atenção do espectador, nas idas e vindas de Rivaldo, desde seu primeiro beijo, a primeira transa seu envolvimento com a prostituta Anésia (Andrea Richa), com os subversivos, namoro com ativista política que defende a luta armada. Toda estrutura narrativa tem como ancora a capacidade cênica de Bertrand Duarte que realmente esbanja naturalidade e um senso de humor convincente. 


Outro ponto forte do filme são as locações reais o que confere ao filme veracidade interna, tanto na passagem do tempo, quanto aos dramas de Rivaldo e Teodoro. Os diálogos também tem pontos altos, como o trecho abaixo. E guardando as devidas proporções, anos noventas para os dias vindouros, a cada geração perdemos o engajamento político, muito embora a culpa recaia quase inteiramente na classe política desprovida de ética e moral que preste ao respeito. E na outra ponta, as novas gerações que vê a política como grande chacota. E o que se tem é um ciclo vicioso sem fim.
Alma Corsária é uma poesia a amizade e manutença desta. Um filme carismático, sensível com nítida influencia dos filmes italianos, ousaria em citar Ettore Escola em Nos que nos Amávamos tanto. Há de se fazer menção ao fato de que Carlão escreveu, fotografou e dirigiu esse filme. Não pra menos o longa foi o grande vencedor do festival de Brasília, melhor filme, melhor montagem, melhor roteiro e também o prêmio da critica. Em São Paulo recebeu prêmio de melhor filme da APCA (associação paulista de críticos de arte).

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