sábado, 12 de julho de 2014

Barba Ensopada de Sangue

Por Pachá
A julgar pelo título, somos levado a crer, ou imaginar que trata-se de literatura ao estilo Tarantino onde sangue é farto e de vermelho intenso. Mas assim como a capa, não devemos julgar livro pelo título, embora via de regra, este antecipe de forma sintetizada conteúdo da historia narrada. No caso desse romance de Daniel Galera o título é apenas detalhe contundente na trajetória do protagonista sem nome que em conversa franca com pai, toma conhecimento de que este vai se suicidar, e como ultimo desejo que a cadela beta, companheira nos ultimo quinze anos, seja sacrifica logo depois. O filho aceita os argumentos do pai para tal ato...

Trabalhei com persuasão minha vida toda, a persuasão é o maior câncer do comportamento humano. Ninguém nunca devia ser convencido de nada. As pessoas já sabem o que querem e sabem do que precisam. Sei disso porque sempre fui especialista em persuadir e inventar necessidades.


Após conversa fatídica filho larga tudo em Porto Alegre e se instala em Garopaba afim de passar a limpo misteriosa morte de seu avo, conforme lhe relatou o pai. E é nesse ambiente, ou melhor nessas duas cidade que coexistem no mesmo espaço, a Garopaba do verão inundada de turistas e a Garopaba do inverno, onde os termômetros beiram zero grau transformando-a em cidade quase fantasma, que o neto de Gaudério vaga juntamente com a cachorra beta.

A narrativa de Galera preza pelo fluidez, calcada na descrição dos acontecimentos que cerca seu protagonista, que alem de tudo possui rara doença, prosopagnosia, o que faz com que ele não reconheça feições como olhos, nariz, boca e como conseqüência os rostos não são gravados na memória, inclusive o seu. E assim como seu romance de estreia, Até o dia em que o cão morreu a estrutura narrativa é enxuta e vigorosa bem entrecortada pelos personagens secundários. Em Barba Ensopada de sangue não há alivio para o terror da morte que ronda aqueles que dela zomba, de perdas irremediáveis. Essa tensão é bem captada pela narrativa de Galera, de forma sutil e elegante.

O livro faz jus ao poderoso título.

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