terça-feira, 13 de setembro de 2016

Mate-me Por Favor




Por Pachá
Há certa dose de pretensão e também originalidade na trama proposta pela diretora Anita Rocha ao explorar a cultura adolescente da classe média da barra da Tijuca, bairro da zona oeste carioca, sinônimo de mobilidade social ou emergentes, a medida que os conflitos que movem os personagens são excessivamente ancorados na subjetividade de um roteiro de muitas possibilidades e nas interpretações das atrizes adolescentes, Bia (Valentina Herszage), Renata (Dora Freind), Mariana (Mari Oliveira) e Michele (Julia Roliz).

O roteiro tem explícitas influências nos filmes de David Lynch quando um grupo de adolescentes encontra, primeiro um pombo morto. Em Blue Velvet o personagem Jefrey (Kyle McLachian) encontra um dedo humano em terreno baldio. Em Mate-me Por favor as protagonistas também convivem com vasto terreno baldio, por onde tomam atalho para voltar da escola. E onde aparece cadáver de garota adolescente e a partir desse ponto, a trama ganha ares de mistério e atmosfera que sugere muito, mais não entrega nada, um coito interrompido.

As interpretações são corretas e convincentes mesmo apostando em clichês, Bia a personagem sonhadora, poética até, cujo olhar e expressão me lembrou Laura Harring em Mulholland Drive. Renata a perdedora, sofre bullying por ser gorda. Mariana a Lolita da coreografia funk que a todo instante parece que vai seduzir alguém, mas nada acontece. E Michele a porra louca, cabelo pintado sugerindo a ideia de adolescente perdida. Ambas frequentam culto evangélico, no mais inspirador estilo Lynchiano. Ambas estão destituídas do ambiente familiar adulto, mãe e pai. O único vinculo familiar é um irmão de bia, João (Bernardo Marinho).

O universo colegial adolescente permeia o imaginário da diretora, os curtas Vampiro do meio-dia 2008, e Handebol 2010, tratam das descobertas, incertezas, medos na transição da fase adolescente para adulta. E assim como Mate-me Por favor possuem linguagem de vídeo-clipe para retratar esse universo. Em ambos há total exclusão do que é adulto, apenas os vícios, bebida, fumo é interseção dessa realidade pueril.

A fotografia faz bom uso da luz natural, talvez para conferir ar documental. Não há muitos contrastes, salvo algumas cenas internas, o que por vezes deixa as cenas sem profundidade. Mas que cumpre seu objetivo de criar ambiência dos anos 90, em muito auxiliado pela trilha sonora dos funks do mesmo período. 



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