terça-feira, 14 de setembro de 2010

Caetés

Por Pachá
"Nunca pude sair de mim mesmo. Só posso escrever o que sou" E é essa a sensação que temos ao terminar qualquer livro de Graciliano Ramos, não sabemos até onde a experiência termina e começa a ficção. Caetés escrito em 1933, seu primeiro livro, tem linguagem seca, coesa, reduzida ao essencial baseado em vivência e observação da sociedade brasileira, nordestina, da época. O personagem João Valério é, avaliado por ele mesmo, um selvagem tal qual o que ele tenta retratar nas páginas do romance que está escrevendo sobre a tribo dos Caetés. Um selvagem com uma capa de verniz. Sabe ler, se emociona com algumas palavras, sabe se portar a mesa, vai á missa, mas ainda sim um selvagem que nada sabe da natureza dos homens ou do coração das mulheres, e dentro desse mundo de pequenas desgraças irremediáveis João Valério tenta de maneira paradoxal se enquadrar dentro da vida social de Pernambuco, obliterando de sua realidade a alma selvagem de seu espírito. Mas ele sucumbe aos encantos femininos na figura de Dona Luiza, esposa de seu patrão, e com esse desejo vem a agonia de viver oco o vazio que agora lhe sufoca, o vazio de uma modernidade repleta de mesquinhas existências, de rituais que não nos difere muito dos selvagens caetés, canibalizando do autor traços autobiográficos.

A obra de Graciliano, sua prosa, é uma das mais importantes do movimento modernista em sua segunda fase, seja pelo seu enfoque ideológico do movimento ou a empatia pelos excluídos em sua constante labuta de vida contra morte que em caetés está presente nos personagens do sapateiro, esposa e a filha tísica, que tem na comoção de Dona Luiza a preocupação com os dramas do povo nordestino, característica marcante em suas obras e dessa maneira expondo sua preocupação do destino do homem.

Caetés tem a graça duradoura de obras que podem abrir a percepção para nosso cotidiano, repleto de graças efêmeras contidas em pequenos dilemas, escrever um romance, que no caso de João Valério é o Caetés, crair a coragem para toma as rédeas de paixões sufocadas, mesmo que o par esteja comprometida. E é dentro desses dois planos que João Valério transita. E é dentro desses dois planos que Graciliano tira reflexões simples, prosaicas, acerca da vida ou da falta dela.

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