Por Pachá
Dalton (1925 - ) se consagrou como grande contista mundial, sim pois seu contos foram publicados em várias línguas; Inglês, Italiano, francês e Russo. Em contos Eróticos temos uma coletânea de seus mais pitorescos e famosos contos, onde o incomum no limite do grotesco da o tom de sua narrativa. Enigmático Dalton explora esse universo onírico com escrita econômica, essência e sutil, mas de grande impacto.
Maria vira-se rápida, cinge-lhe os braços no pescoço, beija-o furiosa na boca. Surpreso, afasta o braço, com o cigarro na mão. Beijo guloso, metade sofrido, metade mordido - cai o cigarro aceso no tapete. Ela rilha o dente, esfrega-se toda, insinua a mão sob a camisa: um botão espirra longe.
- Ali no sofá, Maria.
Queixume abafado mas não arreda pé.
- Sempre os sonhos? Emagrecendo? Suando de noite?
Olho muito branco na vertigem dos suspiros. De repente envergonhada, abate-se na cadeira, funga baixinho.
- Não chore meu bem. Não chore.
Ergue-a gentilmente nos braços, ela se desvencilha.
- Não me pegue. Não me pegue. Por que vim aqui, mãezinha do céu?
E na ponta dos pés a beijá-lo com raiva, filhote faminto que enterra a língua em busca de alimento.
- Como é que baixa isso?
Três botões da calça comprida. soltos, a calça desliza. Corre fácil a pecinha rosa de malha. Ali uma pintinha de beleza, ai que delicia!
- Tenha pena de mim!
É tarde quem tem pena de Maria?
Ela geme e soluça o beijo da paixão, que retribui sem entusiasmo.
- Que que eu vá embora, não é?
Distraído procura a carteira no bolso.
- Será que não tenho mais cigarro?
- O que o doutor pensa de mim?
- É muito querida.
Retoca a franja, guarda espelhinho.
- O meu seio que tanto elogiou não é firme?
Ele espreme displicente um depois outro.
- Duas pedras. Tão duros!
Bem séria na porta, luva de crochê.
- Se o doutor conta para alguém eu me mato!
- Então nunca se mata. Volte outra vez, minha filha.
- Não sei...
Eu sei que volta noivinha do céu.
(Desastres do Amor)
Maria vira-se rápida, cinge-lhe os braços no pescoço, beija-o furiosa na boca. Surpreso, afasta o braço, com o cigarro na mão. Beijo guloso, metade sofrido, metade mordido - cai o cigarro aceso no tapete. Ela rilha o dente, esfrega-se toda, insinua a mão sob a camisa: um botão espirra longe.
- Ali no sofá, Maria.
Queixume abafado mas não arreda pé.
- Sempre os sonhos? Emagrecendo? Suando de noite?
Olho muito branco na vertigem dos suspiros. De repente envergonhada, abate-se na cadeira, funga baixinho.
- Não chore meu bem. Não chore.
Ergue-a gentilmente nos braços, ela se desvencilha.
- Não me pegue. Não me pegue. Por que vim aqui, mãezinha do céu?
E na ponta dos pés a beijá-lo com raiva, filhote faminto que enterra a língua em busca de alimento.
- Como é que baixa isso?
Três botões da calça comprida. soltos, a calça desliza. Corre fácil a pecinha rosa de malha. Ali uma pintinha de beleza, ai que delicia!
- Tenha pena de mim!
É tarde quem tem pena de Maria?
Ela geme e soluça o beijo da paixão, que retribui sem entusiasmo.
- Que que eu vá embora, não é?
Distraído procura a carteira no bolso.
- Será que não tenho mais cigarro?
- O que o doutor pensa de mim?
- É muito querida.
Retoca a franja, guarda espelhinho.
- O meu seio que tanto elogiou não é firme?
Ele espreme displicente um depois outro.
- Duas pedras. Tão duros!
Bem séria na porta, luva de crochê.
- Se o doutor conta para alguém eu me mato!
- Então nunca se mata. Volte outra vez, minha filha.
- Não sei...
Eu sei que volta noivinha do céu.
(Desastres do Amor)
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